Após resistir a pressões de partidos e abrir as portas do gabinete a líderes, parlamentares, prefeitos e governadores, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, reconhece que vive um novo momento na Esplanada. Ao superar a média dos antecessores da pasta, de um ano e meio no cargo, ela diz ter intensificado a agenda com políticos, dando mais atenção às demandas e reduzindo a pressão sobre seu posto: a “meta é acompanhar Lula até o fim deste mandato”.
– Foi anunciado o corte e o contingenciamento de R$ 4,4 bilhões da Saúde. Isso pode afetar a relação com o Congresso por travar demandas?
Não vejo nenhum tipo de conflito, uma vez que há uma demanda do próprio Congresso para que a responsabilidade fiscal se exerça. O que estamos fazendo é nos dedicar a isso para ver como minimizar o impacto. Temos imensas demandas que ainda não foram atendidas, especialmente pelo governo anterior.
– Como foi a aproximação com parlamentares, após críticas por falta de liberação de verba e pressão política?
Desde o início eu recebi muitos parlamentares. A demanda para a Saúde é muito maior. Primeiro pela questão das emendas. No caso das impositivas, 50% têm que ser para a saúde. Recebo diariamente não só parlamentares, mas prefeitos e governadores, e todos têm uma demanda. Eu tenho registrado atas de todas as reuniões, tenho até a contabilidade de quantos parlamentares. Mas sempre tem os fatos, a percepção e a expectativa, que é imensa. É claro que tem um aprendizado. Passei a me reunir com mais frequência com lideranças de partidos, estreitamos muito, ao longo do ano passado, o trabalho com a Secretaria de Relações Institucionais. As críticas são do meu conhecimento, mas não creio que sejam gerais.
– O cargo da senhora é cobiçado pelo Centrão desde o começo do mandato. Acredita que a pressão tenha alguma relação com o fato de ser a primeira mulher no posto?
É claro que a questão de gênero marca todos os cargos na nossa sociedade. O preconceito de gênero se manifesta de várias formas, muitas vezes não tão explícitas. (Há) Dúvidas quanto à capacidade, ainda mais num ministério com a relevância do Ministério da Saúde. Mas eu tenho um histórico de encarar desafios.
– A senhora teme ser incluída em uma eventual reforma ministerial?
A minha meta é acompanhar o presidente Lula até o fim deste mandato. Não vou dizer que eu temo, é uma possibilidade da política. Mas eu faço meu trabalho, acho que tenho muito o que fazer e já tenho feito. Mudanças são possíveis e quem tem mandato é o presidente. Eu sou muito tranquila quanto a isso, desde que meu trabalho seja respeitado. A minha função é continuar a fazê-lo e melhorá-lo.
– A Secretaria de Saúde Indígena parou de divulgar os dados sobre mortes de ianomâmis. Por quê?
O que a gente teve no governo anterior foi uma grande subnotificação e, por outro lado, houve divulgações sem seguir a norma do Ministério da Saúde, sobretudo para dados de mortalidade, que precisam ser revistos. Não temos uma confiança absoluta (nos dados), chegam correções por questões culturais e também da própria desassistência. Agora, com as unidades básicas de saúde nos territórios, você tem mais registro e de mais qualidade. Vamos regularizar. Estamos com um grupo fazendo conferência nos sistemas.
– No G20, um dos debates da Saúde é a criação de uma aliança global na produção de remédios, vacinas e insumos. Como está esse pacto?
A aliança está em construção, mas a ideia é articular uma ampla rede para o G20. Queremos replicar as ideias em todos os blocos, que seja com financiamento voluntário, articular principalmente ações de vacinas e medicamentos para emergências sanitárias e populações negligenciadas, doenças que não despertam interesse de mercado. Um dos grandes temas discutidos foi a questão das arboviroses, que não são mais um problema só dos países tropicais. As informações são do jornal O Globo.