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Conselho Federal de Medicina defende a realização de parto prematuro em vez do aborto

"A mulher vai ser induzida ao parto, uma criança com 22 semanas, com alta tecnologia, vai sobreviver", disse José Hiran da Silva Gallo. (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

O presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), José Hiran da Silva Gallo, defendeu em audiência no Supremo Tribunal Federal (STF) que o método de assistolia fetal é uma “crueldade” e a mulher que engravidar em decorrência de um estupro pode induzir o parto e entregar o bebê para a adoção.

A audiência ocorreu após a sessão do Senado em que Gallo defendeu haver limite na “autonomia da mulher” sobre o corpo. Na ocasião, houve uma encenação sobre como o aborto ocorre. “A mulher vai ser induzida ao parto, uma criança com 22 semanas, com alta tecnologia, vai sobreviver. Está pronta”, afirmou o presidente do CFM ao Supremo, alegando que, dessa maneira, não há “crueldade”.

Ele também argumentou que nos casos em que a descoberta da gravidez concebida a partir da violência sexual é tardia, a culpa é do sistema público. “É uma falha do sistema público. Tem de ter atendimento mais precoce para essa mulher vítima de estupro”, diz.

Segundo Gallo, que é obstetra, o Conselho não é contra o aborto na mulher estuprada, mas é contrário a esse tipo de procedimento e “à violência contra a mulher brasileira”, referindo-se à assistolia fetal em gestações que ultrapassem as 22 semanas. Alexandre de Moraes discordou da diretriz do CFM que impedia a prática nesses casos e concedeu liminar em maio suspendendo a resolução sob a justificativa de ela ser contrária ao que é estabelecido na Justiça, o que causou revolta na ordem médica e levou ao avanço do projeto de lei que equipara o aborto ao crime de homicídio na Câmara dos Deputados.

AGU

Já em sua manifestação enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF), a AdvocaciaGeral da União (AGU) afirmou que a resolução é inconstitucional. Segundo o ofício, assinado por Jorge Messias, a norma emitida pelo CFM “pretendeu, ainda que disfarçadamente, alterar a disciplina legal sobre a questão do aborto”. A AGU ressaltou que o tema cabe ao Congresso.

“A resolução atacada, portanto, cria um perigoso precedente em que conselhos profissionais poderão, abusando do poder de regulamentar a profissão que lhes é legalmente confiado, criar embaraços e tentar impedir políticas públicas previstas em lei ou, pior, formular e propor novas políticas públicas sem previsão em lei”, diz o parecer. E “impacta de forma significativa grupos vulneráveis, como crianças e adolescentes e mulheres pobres e pretas, desconsiderando dificuldades que têm para acessar o procedimento, o que, muitas vezes, gera a necessidade de interrupção de gestações em estágios mais avançados”.

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