A força-tarefa da Operação Lava-Jato investiga se os pagamentos das empreiteiras WTorre e Engevix por consultorias dos ex-ministros Antonio Palocci e José Dirceu, entre 2007 e 2012, podem ter servido para ocultar propina do esquema de cartel e corrupção, na Petrobras, em contratos do pré-sal.
Os investigadores da Lava-Jato encontraram indícios de desvios de recursos da Petrobras na construção do Estaleiro Rio Grande, iniciada no período de 2006, e nos contratos fechados para produção de cascos de plataformas e sondas de exploração de petróleo, no local, a partir de 2010.
A WTorre foi quem construiu o estaleiro no município gaúcho desde 2006. Em 2010, vendeu seus direitos no negócio para a Engevix. Nos períodos em que a Petrobras as contratou, as empresas tinham como consultores Palocci e Dirceu.
A suspeita do MPF (Ministério Público Federal) e da Polícia Federal é que os dois ex-ministros possam ter sido elos do PT, no esquema de corrupção envolvendo o negócio. O ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto já foi apontado por delatores como operador da propina em parte desses contratos.
Parceiros
A empresa de Palocci, a Projeto Consultoria, foi contratada pela WTorre entre 2007 e 2010. O ex-ministro informou ter prestado quatro palestras aos diretores da empresa em 2007 e duas em 2010, cada uma por 20 mil reais. A WTorre afirmou que os serviços foram palestras sem relação com a Petrobras. Apresentou 18 notas fiscais, que totalizaram 350 mil reais, emitidas pela Projeto nos anos de 2007, 2008, 2009 e 2010.
A partir de 2010, o negócio envolve a Engevix – empresa denunciada por corrupção na estatal em contratos de refinarias. A aquisição do estaleiro fez parte de um contrato de 3,4 bilhões de dólares. Em 2011, o grupo fechou o segundo grande negócio no Estaleiro Rio Grande: a construção de três navios-sondas para a Sete Brasil, empresa criada pela Petrobras em parceria com fundos de pensão e bancos para explorar o pré-sal no País.
Quebra de sigilo fiscal obtida pela Lava-Jato mostrou que de 2008 a 2012, a JD Assessoria e Consultoria, de Dirceu, recebeu 2,6 milhões de reais da Engevix, uma parte paga pela empresa e outra parte por meio da Jamp Engenheiros Associados, do lobista Milton Pascowitch. O ex-ministro e a empresa negam que os pagamentos foram referentes ao negócio com a Petrobras.
Propina
Em depoimento prestado em 23 de abril, o ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco informou ter havido corrupção nos contratos de plataforma e de sondas do pré-sal que envolvem a Engevix e nas obras da WTorre de construção do Estaleiro Rio Grande.
O ex-gerente, que fez acordo de delação premiada com o MPF, afirmou ter recebido valores “de um representante da WTorre chamado Carlos Eduardo Veiga”. “Por volta de 2008 ou 2009, um valor aproximado de 400 mil reais ou 600 mil reais”, declarou. Os pagamentos seriam destinados a ele e a seu superior, o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, indicado para o cargo pelo PT.
O objetivo era obter “boa interlocução” e “boa vontade no acolhimento das demandas que a WTorre estava apresentando em decorrência do projeto do Estaleiro Rio Grande com a Petrobras”, registra o MPF.
A WTorre confirma que Veiga foi consultor da empresa. Ele não foi encontrado. Barusco revelou ainda que houve oferta da Engevix, via Pascowitch, para pagamento de 1% do valor de contratos para a construção de “oito cascos do pré-sal”.
O ex-gerente da Petrobras não cita Palocci nem políticos no negócio do estaleiro, mas os investigadores da Lava-Jato suspeitam que as consultorias prestadas por Palocci e Dirceu às empreiteiras também podem ter servido para ocultar propina para o PT neste caso.
Inquéritos
Palocci é alvo de inquérito após ser citado em delação do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Ele disse que o doleiro Alberto Youssef solicitou, a pedido de Palocci, 2 milhões de reais, que seriam para a campanha presidencial do PT de 2010. A WTorre doou 2 milhões de reais para a campanha naquele ano. Palocci recebeu 119 mil reais de doação eleitoral da empresa quando foi candidato a deputado em 2006. Dirceu também é alvo de inquérito devido a serviços prestados a empreiteiras.