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Consumo de álcool no País causa perda econômica de mais de R$ 18 bilhões por ano

Apenas em 2019, até 104,8 mil pessoas morreram em decorrência da ingestão da substância. (Foto: Reprodução)

Em meio à alta no consumo pós-pandemia, um novo estudo quantificou os prejuízos do álcool para a saúde de homens e mulheres e seu impacto econômico para o Brasil. Apenas em 2019, até 104,8 mil pessoas morreram em decorrência da ingestão da substância – o equivalente a 12 óbitos por hora –, o que levou a uma perda econômica de até R$ 18,8 bilhões.

Intitulada Estimação dos Custos Diretos e Indiretos Atribuíveis ao Consumo do Álcool no Brasil, a pesquisa foi realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a pedido da Vital Strategies e da ACT Promoção da Saúde, e foi conduzida por Eduardo Nilson, pesquisador do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura da Fiocruz e do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens/USP).

Para realizar o estudo, Nilson utilizou duas bases de dados. A primeira é a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), desenvolvida em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que parte das respostas dos entrevistados sobre a frequência de consumo de álcool para estimar a média nacional. A segunda fonte foram as estimativas de consumo de álcool apresentadas no Global Status Report on Alcohol and Health, publicado neste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O documento internacional considera os dados do mercado de bebidas alcoólicas para apontar o nível do consumo desses produtos, permitindo comparar a situação de cada País. “Independentemente das estimativas de consumo, a carga epidemiológica e econômica do consumo de bebidas alcoólicas é muito expressiva no País, justificando políticas públicas para seu enfrentamento”, enfatiza Nilson.

Além dos dados, o relatório traz questões sobre o mercado de bebidas no Brasil, como a facilidade de compra via aplicativos de delivery ou mercados automatizados, mesmo por aqueles que não possuem 18 anos, a idade legal de compra. “Outro ponto relevante em relação a essas novas formas de aquisição é que facilitam também o consumo regular e, eventualmente, excessivo”, comenta o pesquisador.

Para ele, existe uma normalização cultural do consumo de bebidas alcoólicas. Elas estão presentes nas letras das músicas, patrocinam shows e eventos esportivos. “Essa normalização é bastante semelhante à que acontecia com o fumo há décadas e, para mudar essa cultura, são necessárias múltiplas estratégias, começando pela maior conscientização da população e trazendo medidas como a taxação das bebidas, a regulação da publicidade e a limitação de horários e locais de venda e consumo”, defende.

“Questões como o conflito de interesses nos patrocínios de eventos também devem ser enfrentadas”, acrescenta Nilson, explicando que não se trata de uma atuação proibicionista, mas da busca por mudança geracional em relação ao consumo de bebida. Nesse sentido, é preciso mais do que colocar no rótulo informações como “proibida para menores” e “beba com moderação”.

Tanto os números obtidos via PNS quanto aqueles calculados a partir da OMS são conservadores, diz Nilson. Não entraram na conta os desembolsos, porque a pesquisa considera apenas os gastos no nível federal. Não entraram os governos estaduais e municipais nem o gasto da rede privada de saúde. “Portanto, embora quase R$ 19 bilhões por ano já seja uma cifra extremamente significativa, o custo real do consumo de álcool para a sociedade brasileira é provavelmente ainda muito maior.”

Para ele, a discussão da regulamentação da reforma tributária torna o momento oportuno para agir e modificar esse cenário. O pesquisador defende a proposta do Ministério da Fazenda de taxar todo o conjunto de bebidas e incluir uma taxação adicional segundo o teor alcoólico. “Assim, além de afetar o consumo de produtos como a cerveja, (o projeto) busca evitar a migração do consumo entre categorias”, comenta. “Por isso, é importante a manutenção da proposta no Senado e, posteriormente, definir alíquotas mais adequadas e efetivas.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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