Domingo, 20 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 20 de abril de 2025
Já está bem estabelecido que não há nível seguro para o consumo de álcool. No entanto, também não há dúvidas que quanto mais, pior. De acordo com um estudo realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e publicado recentemente na revista científica Neurology, consumir mais de oito bebidas alcoólicas por semana está associado a lesões cerebrais ligadas à doença de Alzheimer e ao declínio cognitivo.
“Observamos como o álcool afeta o cérebro à medida que as pessoas envelhecem”, diz Alberto Fernando Oliveira Justo, pós-doutorando na FMUSP e coautor do artigo, em comunicado.
Os pesquisadores analisaram dados de autópsia do Biobanco de Estudos do Envelhecimento da FMUSP, coletados entre 2004 e 2024. A equipe analisou dados de 1.781 pessoas com 50 anos ou mais no momento da morte. A idade média no momento da morte foi de 74,9 anos.
Também estavam disponíveis dados sobre função cognitiva e o consumo de álcool do falecido nos três meses anteriores à sua morte. Entre os participantes, 965 nunca beberam, 319 consumiram até sete doses por semana (consumo moderado) e 129 consumiram oito ou mais doses por semana (consumo excessivo). Outros 368 eram ex-bebedores pesados que pararam de beber antes dos últimos três meses de vida.
Os resultados mostraram que aqueles que consumiam oito ou mais doses de álcool por semana tinham 133% mais chances de desenvolver um tipo de lesão cerebral vascular conhecida como arterioloesclerose hialina, que engrossa as paredes dos pequenos vasos sanguíneos no cérebro, impedindo o fluxo sanguíneo e causando danos cerebrais ao longo do tempo.
O problema se intensificou com o consumo de álcool: em comparação com os abstêmios, o risco de ex-bebedores pesados apresentarem essas lesões aumentou em 89%, e os bebedores moderados – definidos como até sete doses de álcool por semana – apresentaram probabilidade 60% maior.
Além disso, bebedores e ex-bebedores pesador tinham, respectivamente, 41% e 31% mais chances de desenvolver emaranhados neurofibrilares – aglomerados da proteína tau que se acumulam dentro dos neurônios cerebrais e foram associados à doença de Alzheimer.
Os tipos de lesões associadas ao consumo excessivo de álcool na pesquisa também estão ligados a problemas de longo prazo com memória e pensamento.
Além disso, “o consumo excessivo de álcool no passado foi associado à redução da massa cerebral e das capacidades cognitivas”, observam os autores. E o pior de tudo: bebedores pesados morriam, em média, 13 anos antes do que seus pares abstêmios.
“Nossa pesquisa mostra que o consumo excessivo de álcool é prejudicial ao cérebro, o que pode levar a problemas de memória e raciocínio”, pontua Justo. “Compreender esses efeitos é crucial para a conscientização da saúde pública e para a implementação contínua de medidas preventivas para reduzir o consumo excessivo de álcool.”
O estudo tem algumas limitações, como o fato de ser um estudo transversal, não longitudinal, que analisa dados de um único ponto no tempo. No entanto, é mais uma evidência dos efeitos deletérios do álcool no cérebro – não apenas a curto prazo, mas ao longo da vida. As informações são do jornal O Globo.