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Variedades Contorcionismos linguísticos

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Arte: Marcos Cunha/O Sul

Vamos para mais um capítulo de uma interminável novela, cuja trama se apoia em contorcionismos linguísticos de diversas tonalidades.

Eis o primeiro da lista, publicado num site de notícias: “Depois de ter sido suspensa em 2012, a reaprovação das touradas em setembro de 2014 foi um golpe para quem luta contra o evento”. Curto e grosso, caro leitor: de acordo com o trecho destacado, o que foi suspenso? A “reaprovação das touradas”? Como assim? Como se suspende em 2012 algo que foi reaprovado em 2014?

Esse é um dos clássicos casos em que a redação é ruim, mas o conhecimento de mundo nos permite compreender a mensagem. Deve ter ocorrido isto: as touradas foram suspensas em 2012 e, em 2014, foram novamente liberadas (“reaprovadas”).

Eis uma das redações possíveis: “Depois de terem sido suspensas em 2012, as touradas foram (novamente) liberadas em setembro de 2014”.

Onde está o xis do problema? Está na má utilização dos expedientes de coesão textual. Item cada mais comum no programa de provas e concursos públicos, a coesão se ocupa da costura do texto, do emprego de termos que estabeleçam adequadamente a relação entre os elementos que constituem o tecido do texto. Em poucas palavras, é algo como estar no terceiro parágrafo e não precisar voltar aos anteriores para “descobrir” a quem se refere tal passagem do texto.

Vejamos outro exemplo, semelhante: “Suspenso pelo terceiro cartão amarelo, o São Paulo mais uma vez terá o desfalque de Toloi”. Ora, quem está suspenso por ter tomado o terceiro amarelo? Toloi ou o São Paulo? Vamos reescrever: “Suspenso pelo terceiro cartão amarelo, Toloi mais uma vez desfalcará o São Paulo”. Simples, não?

Veja outro tipo de contorcionismo: “São Paulo escolheu Washington a Danilo e viu nascer seu carrasco”. O que dizer da construção “escolher pizza a churrasco”? Houve aí um cruzamento de construções. Empregou-se com o verbo “escolher” uma regência que (na língua formal) é comum com o “preferir”: “Prefiro pizza a churrasco”. Em sendo assim, teríamos “São Paulo preferiu Washington a Danilo e viu nascer seu carrasco”!.

Muitas vezes um tanto bizarros, esses cruzamentos são mais comuns do que talvez creiamos. Quem nunca ouviu no rádio ou na TV algo como “Foi socorrido ao hospital das Clínicas”? A construção padrão, que seria “Foi levado ao hospital das Clínicas, onde foi socorrido”, é substituída por uma mais sintética, que se vale de apenas um dos verbos (“socorrer”), empregado com a regência do verbo eliminado (“levar”: levar alguém a algum lugar).

Para encerrar, veja esta pérola: “Dólar atrasa Honda pensado por Senna de vir ao Brasil”. O título foi publicado num site, situação em que não se padece dos problemas de espaço que há num jornal impresso.

É possível alguém atrasar alguém de fazer algo? Atrasar alguém de algo? Basta substituir o verbo “vir” pelo substantivo que significa o “ato ou efeito de vir”. Esse substantivo atende pelo nome de “vinda”.

Vamos a uma das soluções: “Dólar atrasa vinda ao Brasil de Honda pensado por Senna”. Outra, que exige pequenas alterações: “Vinda ao Brasil de Honda pensado por Senna é atrasada por dólar alto”.

Não é difícil, é? Basta reler com espírito crítico, mesmo que se trate de ler a própria “cria”. É isso.

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https://www.osul.com.br/contorcionismos-linguisticos/ Contorcionismos linguísticos 2015-05-01
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