Sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 5 de agosto de 2024
O Brasil vive um aumento de casos de coqueluche. A doença voltou a ser motivo de preocupação das autoridades de saúde, especialmente após a Secretaria de Saúde do Paraná confirmar a primeira morte no país após três anos sem óbitos pela doença.
Só em São Paulo, foram registrados 192 casos do início do ano até o final de junho, um aumento de seis vezes no número de casos registrados em todo o ano passado. Segundo especialistas, a queda na cobertura vacinal pode estar por trás do aumento dos casos da doença.
“A cada 5 anos é esperado esse retorno. Gostaríamos que o aumento não ocorresse, mas um dos fatores para esse crescimento é justamente esse comportamento do patógeno, que funciona como um ciclo de transmissão. E a outra causa é a baixa cobertura vacinal que cria um bolsão de pessoas suscetíveis que contrai e transmite a doença”, explica José Cerbino Neto, infectologista e pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz) e consultor científico do Richet/Rede D’Or.
Segundo o especialista, como um terceiro fator está também a melhora no diagnóstico da doença e no sistema de vigilância que acaba aumentando a detecção da condição e diagnósticos.
“Tosse comprida”
A coqueluche, popularmente chamada de “tosse comprida”, é uma doença infecciosa aguda de transmissão respiratória e imunoprevinível, causada pela bactéria Bordetella pertussis. Ocorre principalmente em crianças e bebês menores de um ano de idade.
A vacina pentavalente (difteria, tétano, pertussis, hepatite B recombinante e Haemophilus influenzae B conjugada) é oferecida gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) aos dois, quatro e seis meses de vida. Além disso, mais dois reforços com a vacina DTP (difteria, tétano e pertussis), conhecida também como tríplice bacteriana infantil, são indicados aos 15 meses e aos 4 anos.
Em dez anos, a cobertura vacinal da DTP despencou no Brasil. Em 2012, o país vacinou 93,81% do público-alvo e a Região Sudeste alcançou a maior cobertura (95%). Já em 2022, o índice geral ficou em 77,25% e o Sudeste despencou para 74,79%, mostram os dados do DataSUS. O Ministério da Saúde recomenda uma cobertura vacinal de mais de 80% para evitar que o vírus circule e possa causar epidemias.
Levando em conta que a doença não traz imunidade a quem contraiu, ou seja, quem foi infectado pode voltar a tê-la, e que os anticorpos gerados pela vacina vão reduzindo conforme o passar dos anos, é recomendado que adultos recebam doses de reforços da dTpa (versão acelular da DTP) a cada cinco a 10 anos.
Faixa etária
Essa vacina é indicada pelo SUS para maiores de 7 anos que não tomaram a DTP, para profissionais de saúde e para grávidas até o terceiro trimestre de gestação. Entretanto, ela teve uma aceitação de apenas 41% este ano na capital paulista.
“A doença pode acometer pessoas de qualquer idade. É um mito acreditarem que apenas crianças até um ano contrai a doença. Ela tem uma manifestação mais grave em crianças abaixo dos seis meses, por conta da imunidade baixa e ao esquema vacinal incompleto. Entretanto, ela pode acometer adultos e adolescentes de formas mais brandas, mas que são tem um papel importante na cadeia de transmissão”, diz Cerbino.
Transmissão e sintomas
A coqueluche é considerada uma das doenças mais transmissíveis que existe, juntamente com o sarampo. Ela é transmitida pelo contato com gotículas de pessoas contaminadas, podendo gerar, a cada infecção, outros 17 casos secundários.
A doença tende a se alastrar mais em tempos de clima ameno e frio, como na primavera e no inverno, devido ao fato das pessoas permanecerem mais em ambientes fechados.
“A coqueluche tem uma primeira fase chamada de “fase catarral” que tem sintomas parecidos com uma gripe com febre, dor no corpo, congestão nasal e um pouco de tosse seca. Essa é a fase mais infectante e pode durar até duas semanas. Em seguida, tem a fase mais crítica, chamada de paroxística, quando a febre se mantém baixa, e começam as crises de tosse súbitas”, explica o médico.
Segundo Cerbino essas crises de tosses, por conta da força, podem causar saliência nos olhos, protusão na língua, salivação, lacrimejamento e vômitos e evoluir para hemorragias, além de quadros neurológicos, como encefalites e convulsões. Essa fase pode durar até seis semanas.
A melhor forma de prevenir é a vacinação. O tratamento é feito com antibióticos e, quanto mais precoce, maior a chance de reduzir a gravidade e a transmissibilidade da doença.