Sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 30 de março de 2021
A investigação da organização, conduzida mais de um ano após o surto inicial, está sob intenso escrutínio desde o início
Foto: ReproduçãoO comércio de animais selvagens na China é o caminho mais provável através do qual a Covid-19 foi capaz de se espalhar da fonte original, possivelmente morcegos, para humanos. Os dados constam no tão esperado relatório da OMS (Organização Mundial de Saúde) sobre a origem do vírus.
O documento incluirá “centenas de páginas com muitos dados, muitos fatos e informações novas”, disse Peter Daszak, membro da equipe de especialistas internacionais da OMS que visitou a cidade chinesa de Wuhan, onde o vírus surgiu pela primeira vez, no início deste ano.
Mas as principais conclusões do relatório – sobre as possíveis maneiras pelas quais o novo coronavírus poderia ter surgido em Wuhan – permanecem inalteradas desde quando a OMS encerrou sua viagem em fevereiro.
A investigação da organização, conduzida mais de um ano após o surto inicial, está sob intenso escrutínio desde o início. Alguns cientistas e governos questionaram a independência do estudo. Pequim, por outro lado, acusou Washington de “politizar” a origem do vírus.
Na semana passada, o Ministério das Relações Exteriores da China repassou aos diplomatas sobre as principais descobertas da pesquisa da OMS antes da divulgação do relatório.
Feng Zijian, vice-diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China e membro da equipe chinesa, avisou que os especialistas de ambos os lados examinaram quatro possibilidades de como o vírus chegou a Wuhan: por meio de alimentos congelados, infectando diretamente um humano, infectando um animal intermediário e vazando de um laboratório.
Feng acredita que o vírus tenha se espalhado para os humanos por meio de um hospedeiro intermediário, e que é “extremamente improvável” que o vírus tenha vazado de um laboratório.
De acordo com Daszak, especialistas chineses e internacionais concordam que o caminho mais provável para o vírus foi a partir de um hospedeiro original do morcego, que infectou um intermediário em fazendas de vida selvagem no sul da China. Esses animais foram, então, vendidos para um mercado de alimentos de Wuhan, que desempenhou um papel central na propagação da doença.
O Mercado Atacadista de Frutos do Mar de Huanan foi onde detectaram, pela primeira vez em dezembro de 2019, um grupo de casos semelhantes aos de pneumonia. Desde 1º de janeiro de 2020, o local permanece fechado ao público.
No terreno em Wuhan, Daszak e outros especialistas da OMS visitaram o mercado de Huanan e descobriram que ele não vendia apenas frutos do mar, mas também “vida selvagem e produtos da vida selvagem, carcaças inteiras de animais e animais vivos de diferentes tipos” de fazendas em toda a China.
“Portanto, definitivamente havia um caminho que levava animais de toda a China a entrar nesse mercado, incluindo os lugares onde os parentes mais próximos do Sars-CoV-2 [nome oficial dado ao novo coronavírus] foram encontrados em morcegos”, destacou Daszak, zoólogo britânico que estuda as origens virais em animais e presidente da EcoHealth Alliance, uma organização sem fins lucrativos de saúde ambiental.
O parente mais próximo conhecido do novo coronavírus causando Covid-19 foi descoberto anteriormente em morcegos-ferradura, na província de Yunnan, sudoeste da China, em 2013. Outros coronavírus intimamente relacionados ao Sars-CoV-2 também foram descobertos em amostras de morcegos congelados no Camboja e no Japão.
“Então, o que descobrimos, eu acho, é uma evidência muito importante de como o vírus poderia ter emergido da zona rural da China para uma grande cidade como Wuhan”, explicou Daszak. “E constatou-se que, no final do relatório, tanto a equipe de especialistas da China quanto os especialistas da OMS sentiram que esse foi o caminho mais provável que o vírus teria surgido”.
A equipe da OMS não foi o primeiro grupo a pesquisar o mercado de Huanan. Durante o surto inicial em Wuhan, cientistas chineses também foram para lá. Mas, quando eles chegaram, o mercado estava fechado e a maioria dos animais vivos havia sido retirada.
No entanto, os cientistas chineses coletaram o máximo de evidências que puderam e mais de 900 amostras, incluindo amostras ambientais. No entanto, de acordo com Daszak, todas as carcaças de animais que encontraram testaram negativo para o vírus.
O relatório também apresenta uma série de recomendações sobre o que precisa ser feito para descobrir mais sobre a origem do vírus, tanto da parte chinesa quanto da OMS.
Para Daszak, após a identificação do caminho mais provável, uma recomendação importante é ir a essas fazendas de vida selvagem e entrevistar os proprietários, os parentes deles e testar as pessoas para procurar evidências se eles foram infectados com Covid-19 antes dos primeiros pacientes conhecidos em Wuhan.
Os pesquisadores também devem descobrir quais animais essas fazendas forneceram, de onde eles vieram e testá-los para procurar por “evidências da presença do vírus na natureza”, acrescentou.
“O próximo passo é iniciar esse trabalho e já estamos alinhando as conversas com nossos colegas da China para iniciar esse processo”, disse Daszak. “O relatório é realmente apenas o começo”.