O governo federal brasileiro já contabiliza no papel mais de 500 milhões de doses de vacinas contra a covid-19, quantidade suficiente para imunizar a população inteira e contar com uma sobra do bem mais disputado no mundo.
Mas a realidade atual do Brasil é marcada por falta de vacinas, lentidão na aplicação de doses disponíveis, atrasos em entregas previstas dentro e fora do País e consequências da demora do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em comprar imunizantes.
A previsão divulgada pelo Ministério da Saúde já mudou cinco vezes em março, sempre reduzindo o número de doses a serem distribuídas nas próximas semanas e adiando cada vez mais entregas.
A partir das informações atuais, a BBC News Brasil traça a seguir três cenários para o período de vacinação previsto para diferentes grupos da população brasileira — além do pode dar errado ou até melhorar no meio do caminho.
É importante ter em mente que tudo pode mudar, como já foi visto nas últimas semanas.
A tendência, até o momento, é que o início da vacinação dos adultos não prioritários deva acontecer pelo menos em meados do segundo semestre de 2021, enquanto a de jovens com menos de 25 anos deve acontecer só em 2022.
A situação dos menores de idade é ainda mais incerta.
Números e obstáculos
Um estudo recente da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) apontou que que Brasil precisa vacinar 2 milhões por dia para controlar pandemia em até um ano. Especialistas apontam que o País teria capacidade para imunizar mais de 1 milhão de pessoas por dia, como fez na pandemia de H1N1 em 2009.
Em março, no entanto, a taxa de vacinação diária tem variado de 22 mil a 500 mil doses.
— Grupos prioritários: vacinação estimada até setembro de 2021
O plano de imunização brasileiro contra a covid-19 dividiu a população adulta em prioritários e não prioritários.
O grupo prioritário é subdividido em 29 categorias, entre elas idosos, adultos com comorbidades, profissionais de saúde, pessoas em situação de rua, presos, trabalhadores do setor de educação, agentes de segurança, motoristas de ônibus e caminhoneiros.
Essas pessoas somam 77,3 milhões.
— Adultos não prioritários: início de vacinação estimado para outubro de 2021
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de habitantes com idades de 18 a 59 anos no País totaliza 125 milhões de pessoas. Cerca de 40 milhões delas estão no grupo prioritário.
Ainda não está claro como transcorreria a vacinação para esse grupo, mas ela deve seguir os mesmos moldes atuais (adotados inclusive em outros países, como o Reino Unido). As pessoas seriam divididas também em faixas etárias e imunizadas em ordem decrescente, com os jovens em torno de 18 anos por último.
Tampouco é possível estimar o ritmo de vacinação no segundo semestre, mas o governo federal afirma que os obstáculos enfrentados pelo País atualmente correspondem apenas ao início do processo de fabricação e distribuição, concentrado em dois fabricantes.
No segundo semestre de 2021, com mais opções e doses disponíveis, além da fabricação 100% nacional da AstraZeneca-Oxford pela Fiocruz, a tendência seria superar com folga a marca de 1 milhão de vacinados por dia.
Vale lembrar que na pandemia de H1N1, em 2009, o Brasil levou quase três meses para vacinar 80 milhões de pessoas.
— Menores de idade: sem previsão de início da vacinação
Além dos quase 85 milhões de adultos não prioritários, devem ser vacinados também os menores de idade, que somam cerca de 48 milhões, segundo o IBGE.
Atualmente, eles não estão listados entre aqueles que receberão a vacina, dada a falta de estudos de segurança e eficácia dos imunizantes com essa faixa etária e a incidência menor de covid-19 grave entre essas pessoas dessa faixa etária.
Mas há estudos em andamento no País com vacinas para menores de idade, e os resultados têm sido promissores.
Dado o ritmo de vacinação do País, é provável que os imunizantes sejam aprovados para essas faixas etárias até chegar a vez deles na fila da vacinação, a princípio no primeiro semestre de 2022.