Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 23 de setembro de 2023
A reunião teria ocorrido no Palácio da Alvorada quinze dias depois do segundo turno da eleição presidencial.
Foto: Bruno Spada/Câmara dos DeputadosO ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, recebeu um estudo sobre o “poder moderador” de militares, tese adotada por bolsonaristas para justificar uma intervenção militar. O episódio teria ocorrido dois dias após um encontro do ex-presidente com os comandantes das Forças Armadas, o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e o general Braga Netto no dia 14 de novembro de 2022.
A reunião teria ocorrido no Palácio da Alvorada quinze dias depois do segundo turno da eleição presidencial que culminou com a vitória de Lula, e não constou na agenda oficial de Bolsonaro. As informações são do jornal O Globo.
Conforme a delação de Cid, revelada por Bela Megale, o ex-presidente se reuniu com a alta cúpula militar e membros do governo da ala militar após o pleito para discutir uma minuta de um possível plano golpista.
No entanto, de acordo com o jornal, não é possível determinar se o documento discutido na reunião está relacionado ao encontrado no celular do tenente-coronel Cid, e também não há confirmação de que o relato de Cid esteja relacionado a essa reunião específica.
Durante o encontro, o almirante Almir Garnier Santos, então comandante da Marinha, teria afirmado que sua tropa estava pronta para seguir as ordens do presidente.
Embora os e-mails não mencionem os comandantes por nome, na época as três Forças Armadas eram lideradas por Almir Garnier (Marinha), General Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e Tenente-Brigadeiro do Ar Baptista Junior (Aeronáutica).
Os e-mails também apontam para um outro encontro não registrado na agenda oficial de Bolsonaro com Garnier, o então chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, o ministro Paulo Sérgio Nogueira e o então assessor especial para Assuntos Internacionais, Filipe Martins, em 18 de dezembro de 2022. Essas possíveis reuniões estão sendo analisadas pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do dia 8 de janeiro.
Cid, em um depoimento de sua delação, relatou que Martins entregou a Bolsonaro uma minuta de decreto que previa a convocação de novas eleições e a prisão de opositores. No entanto, Bolsonaro não manifestou a sua opinião a esse plano. O tenente-coronel também afirmou que quando o plano golpista foi apresentado, a liderança do Exército teria declarado sua recusa em apoiar a iniciativa.
Além do documento sobre o “poder moderador”, Cid também recebeu outros dois documentos em 16 de novembro de 2022, relacionados às prerrogativas das Forças Armadas na “garantia dos poderes constitucionais” e à possibilidade de “decretação do estado de defesa ou de sítio”. O conteúdo desses documentos atraiu a atenção dos investigadores e foi incluído no inquérito das milícias digitais.
O texto em questão é baseado em um artigo científico apresentado à Escola de Comando e Estado Maior do Exército no ano de 2017. Foi enviado ao ex-auxiliar de Bolsonaro pelo tenente-coronel Marcelino Haddad, que afirmou que Cid solicitou o envio do documento em novembro de 2022.
Os detalhes do suposto plano golpista são considerados a revelação central na delação de Cid, que permanece sob sigilo judiciário. A investigação sobre esse assunto está em estágio menos desenvolvido na Polícia Federal, se comparada às apurações de supostas irregularidades relacionadas à venda de joias e ao uso de cartões de vacina por Bolsonaro e seus aliados. Por esse motivo, é a área em que Cid pode oferecer uma contribuição mais substancial em termos de informações.