A necessidade urgente de cortar gastos levou o presidente Lula a abrir uma guerra por sobrevivência entre os ministérios do governo. Com 39 pastas na máquina e orçamentos já bastante limitados, o Planalto precisa escolher setores que serão sacrificados nesse novo esforço fiscal. As discussões já se arrastam por semanas e agora chegaram a um ponto sempre controverso: os gastos da área militar.
O setor é chefiado pelo ministro da Defesa, José Múcio. Ele disse, outro dia, que “trabalhava noite e dia feito um louco” para arrumar recursos para bancar os projetos militares e despesas da caserna. Isso num cenário já de cortes e de gastos não previstos, como os mais de 200 milhões de reais investidos pelas forças em diferentes operações.
Integrantes da caserna lembram que o orçamento da área já foi empenhado em ações como o socorro a famílias castigadas pelo desastre climático no Rio Grande do Sul, passando pela crise da seca e das queimadas em diferentes regiões do país e o contínuo combate ao garimpo nas terras indígenas e a operação de acolhida de venezuelanos em Roraima.
Os militares reclamam, com certa razão, que são sempre acionados para resolver questões imediatas da política, quando o presidente da República se sente pressionado ante a letargia do governo. Mas o dinheiro, que é pouco, raramente é suplementado.
A retomada do debate de cortes na Defesa ocorre um mês depois de Lula ter recebido Múcio no Planalto para discutir justamente o oposto: como prover recursos para investir tanto na compra dos novos aviões presidenciais como outros projetos estratégicos dos militares. Para militares ouvidos pelo Radar, a situação revela um governo perdido. Num mês, o tema é investir. No outro, cortar. E assim vai se arrastando o mandato petista.
O debate do momento é o mesmo de sempre: como equacionar gastos previdenciários das forças. Lula, como presidente, atua como mediador. Ouve argumentos dos ministros que terão recursos cortados e cruza as informações com os planos da equipe econômica.
Como a conta não fecha, a decisão vai sendo adiada. Lançar mão de militares para resolver problemas da gestão que pressionam a popularidade do presidente não é algo novo na política de Brasília. A novidade é que o governo exige ação, mas não provê recurso para tamanho nível de operações das forças.
Daí vem o argumento, repetido com frequência por Múcio, de que as forças não têm mais de onde tirar recursos.
Os projetos estratégicos da área militar, que incluem compra de blindados, helicópteros, a construção de submarinos e o cronograma dos caças já estão todos atrasados. É o que acontece na área militar quando um governo não prioriza financeiramente as agendas. Os prazos de desenvolvimento e entrega de ativos militares são alongados — por anos em muitos casos.
A questão, como se vê, não é simples e deve alongar a discussão sobre a questão fiscal. As informações são da coluna Radar, da revista Veja.