Cotados para disputar a Presidência como herdeiros do bolsonarismo, governadores de direita, como Tarcísio de Freitas (Republicanos), Ratinho Jr. (PSD), Ronaldo Caiado (União) e Romeu Zema (Novo), testaram seu potencial nas eleições municipais e conseguiram eleger aliados, apesar de reveses em colégios eleitorais importantes e de algumas arestas com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no processo.
A movimentação foi uma prévia da corrida pela preferência deste campo para 2026, que conta ainda com lideranças como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), o empresário Pablo Marçal (PRTB) e o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG).
Inelegível até 2030, Bolsonaro tende a participar ativamente do processo de escolha de seu herdeiro na disputa nacional, segundo interlocutores do ex-presidente. Por ora, aliados de Bolsonaro no PL têm apontado Tarcísio como o “número 1 da fila” para concorrer à Presidência. O ex-presidente, que ainda tenta articular uma anistia no Congresso para retomar a elegibilidade, evita se posicionar claramente sobre a disputa.
Tarcísio foi quem colheu os melhores resultados do primeiro turno, com aliados vitoriosos em 12 dos 30 maiores colégios eleitorais de São Paulo, além de participar de 11 disputas de segundo turno. Em nove delas, o candidato apoiado pelo governador avançou à frente, inclusive na capital paulista, com o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), que creditou o próprio resultado ao apoio de Tarcísio, após Bolsonaro adotar postura dúbia na disputa.
O desempenho faz Tarcísio avaliar uma disputa pela reeleição em 2026, aproveitando a base de prefeitos, em vez de se arriscar à Presidência. Braço direito de Tarcísio no governo estadual, Gilberto Kassab defendeu esta saída. O PSD, de Kassab, se capilarizou no estado ao eleger 203 prefeitos, o dobro do PL, segundo colocado, com 102. O próprio Tarcísio tem desconversado e dito que apoia Bolsonaro, mesmo inelegível, em 2026.
Maior capilaridade
Em Goiás e no Paraná, os governadores Ronaldo Caiado e Ratinho Jr. conseguiram fazer com que seus respectivos partidos, o União Brasil e o PSD, elegessem o maior número de prefeitos em seus estados. Apesar da maior capilaridade, Caiado e Ratinho enfrentam empecilhos justamente nas duas capitais, com disputas de segundo turno que os têm colocado em lado oposto ao de Bolsonaro.
Em Curitiba, o vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD), considerado favorito, sofre a concorrência de Cristina Graeml (PMB) na direita. Ela recebeu acenos de Bolsonaro mesmo com o PL fazendo parte da chapa de Pimentel. O PSD foi alvo de campanha ferrenha de lideranças do PL, como Nikolas Ferreira, que pediram a eleitores de direita para que não votassem na sigla de Kassab.
O cenário embaralha os planos do governador do Paraná, que busca se posicionar como presidenciável da direita, mas sem vinculação estreita a Bolsonaro, estratégia que será aplicada em Curitiba.
A exemplo de Ratinho Jr., o governador de Goiás, Ronaldo Caiado vive um embate similar com o bolsonarismo nos dois maiores colégios eleitorais: Goiânia e Aparecida de Goiânia. Depois de Bolsonaro mergulhar na candidatura de Fred Rodrigues (PL) na capital, Caiado vem procurando apontar seu aliado, Sandro Mabel (União), como o “mais preparado” para administrar a cidade, enquanto chama o rival de “falso político de celular”.
Embates difíceis
Caiado já se coloca como pré-candidato à Presidência, o que incomodou Bolsonaro, que espera ungir seu próprio sucessor no campo conservador. Em Aparecida de Goiânia, o candidato apoiado pelo governador, Leandro Vilela (MDB), trava uma disputa acirrada com Professor Alcides (PL).
O governador de Minas, Romeu Zema, que já tem se colocado como possível vice numa chapa com Tarcísio em 2026, viveu impasse semelhante em Belo Horizonte. Seu candidato, Mauro Tramonte (Republicanos), desidratou na reta final, e foi superado pelo bolsonarista Bruno Engler (PL), a quem Zema não apoiou por divergências locais. No segundo turno, entre Engler e o atual prefeito Fuad Noman (PSD), Zema ainda não se posicionou.
Embora o Novo tenha crescido nessas eleições municipais, o partido de Zema ainda tem baixa capilaridade, com nove prefeituras em Minas. O governador também viu prefeitos do PT, seu adversário a nível estadual e nacional, se reelegerem em dois dos maiores colégios eleitorais do estado, Contagem e Juiz de Fora.