Terça-feira, 24 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 26 de setembro de 2022
Segundo levantamento, nove em cada dez pessoas que morreram entre março e setembro de 2022 pelo vírus não tinham tomado, neste ano, a terceira dose
Foto: DivulgaçãoLevantamento realizado por pesquisadores paulistas que monitoram a pandemia de covid aponta que 89% das pessoas que morreram por causa da doença no período de março a setembro não haviam tomado a primeira dose de reforço, também conhecida como “terceira dose”. Quase 80% desse grupo é formado por pessoas com comorbidades.
Nos 20 primeiros dias de setembro, 1.540 brasileiros perderam a vida em decorrência da covid, mostram os dados do consórcio dos veículos de imprensa. Embora o número inspire preocupação, a mesma marca de óbitos foi atingida em apenas 24 horas no início de março de 2021.
Ou seja, em apenas um dia morreu o mesmo número de pessoas que, nesta altura da pandemia, perderam a vida ao longo de quase um mês. Trata-se, evidentemente, do impacto causado pela marca de mais de 103,7 milhões de brasileiros vacinados com três doses.
E se, antes, a doença era mais abrangente, apresentando risco de agravamento para a população em geral — diante do alto índice de infecções que aumentavam exponencialmente as mortes —, hoje os óbitos concentram-se em grupos específicos: as pessoas com idade acima de 60 anos, os pacientes com doenças crônicas ou imunossuprimidos, e os que não concluíram o esquema vacinal.
Levantamento
De acordo com levantamento realizado pelo Info Tracker, grupo que reúne pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade de São Paulo (USP) para monitoramento da covid, nove em cada dez pessoas que morreram entre março e setembro pelo vírus não tinham tomado, neste ano, a terceira dose de alguma das vacinas disponíveis no Brasil.
A mesma análise estende a lupa sobre as pessoas com comorbidades. Essas correspondem a 79,46% das mortes por infecções por coronavírus nos mesmos seis meses. A idade superior a 60 anos era uma característica presente em 83% das vítimas letais por covid, de acordo com o mesmo estudo.
“Os dados mostram a importância de manter o esquema vacinal atualizado. A pesquisa também indica que precisaremos imunizar as pessoas periodicamente”, diz o professor Wallace Casaca, um dos coordenadores do grupo Info Tracker. “A pandemia voltou a apresentar uma característica detectada em seu surgimento: a centralização da letalidade em grupos específicos.”
Bruno Scarpellini, médico infectologista e professor da PUC-Rio explica que, atualmente, com a circulação da variante Ômicron e suas correlatas, o esquema basal para proteção do coronavírus se dá com três doses — ou duas, quando iniciado com a vacina da Janssen.
— Há coisas que não podemos mudar nos fatores de risco para a covid, a idade é um deles. Mas o paciente pode, sim, buscar a vacinação e manter doenças crônicas controladas, o que colabora com o quadro de saúde diante do coronavírus— diz o especialista.
Internações
O arrefecimento da pandemia — e a centralização das mortes em um grupo específico — também pode ser percebido em outras frentes. O médico infectologista David Uip, à frente da Secretaria Extraordinária de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde do estado de São Paulo, explica que, atualmente, é também mais rara a necessidade de entubar e internar pacientes em decorrência da covid.
— A variante Ômicron causa uma doença diferente. Em outros momentos da pandemia, os pacientes começavam a se complicar antes do sétimo dia de infecção, com uma síndrome inflamatória. A covid, agora, dura de sete a dez dias e sua complicação acontece por uma infecção bacteriana, normalmente pneumonia ou sinusite — avalia o médico que atesta a redução drástica dos casos graves causados pelo coronavírus em seus atendimentos.