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Cláudia Fam Carvalho Covid à Brasileira

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Desde a chegada do vírus, este serviu aos mais diversos interesses.

Foto: Reprodução
O número estimado de pacientes curados no RS é de 7.103 (74,8% dos casos). (Foto: Reprodução)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

O desenrolar da pandemia no Brasil é, no mínimo, intrigante. Desde a chegada do vírus, este serviu aos mais diversos interesses.

Como se não bastasse a crise na saúde e na economia, aqui ele foi verdadeiramente usurpado por opositores do governo que tentaram, ao máximo, difamar o presidente Bolsonaro. Manipularam informações, querendo fazer crer que ele não estava preocupado com as vidas, desvalorizando a sua preocupação com economia e sua defesa incansável pela liberdade dos médicos na prescrição ou não da hidroxicloroquina, medicamento sem evidência científica comprovada para a covid-19, porém aventada como possibilidade e autorizada pelo CFM em caráter de excepcionalidade.

Essa medicação é utilizada há décadas para tratamento de doenças reumatológicas e para malária e, inclusive, não era de uso controlado antes do evento da covid. Porém, subitamente se tornou uma ameaça à saúde de todos, fato esse incrivelmente corroborado, até mesmo, por colegas médicos inteligentes e esclarecidos que parecem ter perdido o juízo, chegando a conclusões errôneas na leitura de artigos científicos e inferindo na relação de causa e efeito, em estudos que não tem metodologia aceitável para medir tal relação. Por que não questionam a azitromicina? Também tem sido prescrita sem evidência científica e com efeitos adversos incertos em pacientes com covid.

Fica óbvio que a questão da hidroxicloroquina perpassa a medicação em si e entra no campo da política, onde então vira cilada, pois a emoção borra a razão. Tudo é escancaradamente usado para gerar instabilidade política.

O novo coronavírus também foi terreno fértil para roubalheiras devido a declaração de estado de emergência e consequente possibilidade de compras com dinheiro público sem licitações. Infelizmente todos já vimos inúmeras notícias relatando verdadeiras atrocidades cometidas pelos nossos governadores, prefeitos e gestores.

Mas, ao meu ver, o pior desdobramento da covid-19 tem sido o controle social imposto pelos Estados e Municípios, que nos tomou liberdades fundamentais. Nós entregamos nossas liberdades, de bom grado, em um momento inusitado diante da ameaça do vírus e acreditando na teoria do “achatamento da curva”, em que diminuiríamos o ritmo de contágio do vírus de forma a não saturar a capacidade de atendimento médico. Essa havia sido a promessa.

Porém, o vírus não se disseminou na nossa cidade e no nosso Estado conforme havíamos previsto, o número de casos que tivemos foi 100% atendido e, digo mais, os serviços de saúde ficaram ociosos. Por que não nos deram nossa liberdade de volta? Seguem propagando o medo e o pânico para justificar as inúmeras restrições que seguem impostas. Nossas crianças estão sem aulas, acarretando em prejuízo incomensurável na saúde mental das mesmas que estão há mais de 2 meses em casa, privadas de se relacionarem com amigos, brincarem nas pracinhas das escolas e muitas vezes vulneráveis a abusos, físicos ou emocionais, por estarem sendo cuidadas em condições atípicas.

Não quero com isso menosprezar as mortes por covid ou mesmo propagandear que estejamos numa ilha protegida da covid, porém temos que dosar os custos e os benefícios de uma forma mais equilibrada. Milhares de pessoas perderam seus empregos, perderam acesso a planos de saúde, empresas fecharam. Também são vidas.

E não acaba aqui. Parece que ficou na moda violar o direito dos cidadãos. Ontem tivemos acesso a cenas deploráveis de abuso de autoridade e censura, perpetradas justamente por um daqueles que deveria ser um dos maiores guardiões da lei e da Constituição, ministro do STF Alexandre de Morais. Por ordem dele, a PF adentrou residência, propriedade privada, de empresários por supostas fake news.

Para aqueles que se apavoraram assistindo a reunião ministerial também absurdamente exposta à população por outro ministro do STF, será que essas cenas da vida real não são ainda mais dantescas do que meras falas indignadas numa reunião privada, entre equipe, sem nenhuma consequência prática?

Qualquer palavra dura, discurso inflamado, desabafo indignado ou presença em manifestações populares, vorazmente chamada de antidemocrática, não chega aos pés da afronta a democracia decorrente de um inquérito ilegal, aberto pelo próprio STF, atropelando trâmites processuais e violando os direitos constitucionais dos cidadãos. Me desculpem, prefiro os palavrões.

Cláudia Fam Carvalho

Médica Psiquiatra e Psicoterapeuta 

Membro associado APRS e CELG 

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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