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Covid longa: ao todo, 67,5% dos infectados relatam sintomas mesmo dois anos após a doença

Estudo fornece evidências numéricas para a névoa cerebral que aflige muitas pessoas infectadas. (Foto: Freepik)

Enquanto as vacinas são eficazes em reduzir a gravidade da covid, e tenham de fato levado as mortes pela doença aos patamares mais baixos desde o início da pandemia, há uma outra face da crise sanitária que recebe cada vez mais atenção dos cientistas: a covid longa.

Classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a persistência dos sintomas por ao menos três meses após a infecção, ainda não se sabe quanto tempo a síndrome pode durar e o quanto ela impacta o organismo.

Agora, um novo estudo aponta que 67,5% dos contaminados com doença leve ou moderada, sem precisar de hospitalização, ainda registram queixas relacionadas à covid mesmo depois de dois anos. O trabalho, primeiro a avaliar com uma duração tão longa a prevalência dos sintomas, foi conduzido por pesquisadores espanhóis e publicado na revista científica JAMA Network Open.

Para chegar ao resultado, foram realizados dois estudos em dois centros médicos do país europeu, entre março e abril de 2020, os primeiros meses de emergência sanitária internacional. Lá, eles avaliaram 360 pacientes que foram hospitalizados, e 308 que receberam um diagnóstico, mas não precisaram de internação.

Dois anos depois, em 2022, os pesquisadores contataram os mais de 600 participantes para entender se as queixas relacionadas à doença persistiam – e quais eram mais frequentes. Eles descobriram que 59,7% dos pacientes que foram hospitalizados ainda viviam com ao menos um sintoma da covid, percentual que foi de 67,5% entre os contaminados com formas mais brandas da doença.

“Nossos resultados revelaram proporções semelhantes de pacientes hospitalizados e não hospitalizados com sintomas pós-covid dois anos após a infecção aguda, sugerindo que, apesar de não terem sido hospitalizados durante a fase aguda, os sintomas de covid longa também são encontrados na coorte (grupo) não hospitalizada. Esse achado pode ser explicado pelo fato de que a gravidade da covid não é um fator de risco para o desenvolvimento de sintomas prolongados da doença”, escreveram os autores no estudo.

Em ambos os grupos, os problemas mais relatados foram fadiga, por quase metade dos participantes, dores e perda de memória. No geral, não foram observadas diferenças significativas na prevalência de cada sintoma entre aqueles que necessitam ou não de hospitalização.

As exceções são a dispneia, termo utilizado para falta de ar ou dificuldade em respirar, e a anosmia, a perda do olfato. Enquanto os problemas respiratórios foram identificados numa proporção mais de duas vezes maior entre os pacientes que foram internados, a anosmia foi também duas vezes mais prevalente entre os demais participantes.

Os responsáveis pelo estudo destacam ainda que o número de comorbidades pré-covid foi associado a uma maior queixa de fadiga e dispneia a longo prazo entre os hospitalizados. Já para os demais pacientes, a fadiga foi ligada também ao número de sintomas durante a infecção, além das comorbidades. Eles pedem mais trabalhos sobre o tema.

“A identificação de fatores de risco para identificar quem pode desenvolver covid longa, quanto tempo duram os sintomas e se a covid leva à apresentação de outras doenças crônicas é crucial para o desenvolvimento de estratégias de tratamento. Essas informações sobre pacientes não hospitalizados (por exemplo) são escassas, até onde sabemos”, afirmam no estudo.

Um estudo publicado na revista científica Nature Communications, conduzido por pesquisadores do Reino Unido, analisou dados de 1,1 milhão de britânicos diagnosticados com covid e estimou quem está mais em risco para a forma longa da doença.

Segundo os cientistas da University College de Londres, são eles:

— Mulheres;

— Pessoas entre 50 e 60 anos;

— Pessoas com saúde mental ou física fragilizada antes da pandemia;

— Pessoas com asma;

— Pessoas obesas.

 

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