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Saúde Covid: nova leva de fake news impulsiona a queda de interesse pelas vacinas bivalentes

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São 33 locais aplicando o imunizante na Capital (Foto: Cristine Rochol/PMPA)

Desde o final de fevereiro, o Brasil deu início a mais uma etapa de campanha de vacinação contra a Covid-19 no país com a chegada das doses bivalentes que ampliam a imunidade contra a variante Ômicron e aumentam a proteção dos grupos de risco. Porém, pouco mais de um mês depois, a cobertura vacinal está muito abaixo do esperado – apenas 12% dos 63 milhões de brasileiros aptos a se vacinar procuraram os postos de saúde.

Uma das principais razões para isso é o novo efeito dominante das fake news sobre os imunizantes nas redes. As postagens mais propagadas alegam que as vacinas seriam mais perigosas do que a própria doença e que teriam provocado uma série de infartos súbitos. Porém, os números de ocorrências não aumentaram após o início da vacinação no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, o número de óbitos por infarto em 2021, ano do início da vacinação, praticamente foi o mesmo de dois anos antes, em 2019: na casa dos 95.000.

As mentiras são disseminadas muitas vezes intencionalmente por grupos que se beneficiam da não adesão às vacinas, mas o formato que dá uma “cara de notícia” leva diversas pessoas a compartilharem o conteúdo por desconhecimento. Especialistas ouvidos pelo jornal O Globo contam que uma das perguntas mais frequentes que têm recebido é de fato se as doses causam doenças cardiovasculares.

As fake news são um perigo para a saúde pública, e o Brasil não é imune à ação do movimento antivacina, afirmam. De acordo com uma pesquisa do Instituto Global de Saúde de Barcelona (ISGlobal), publicada na Nature Medicine, enquanto a intenção de se vacinar contra a Covid-19 aumentou 5,2% na tendência mundial de 2021 para 2022, no Brasil houve uma queda de 3,3%.

Veja abaixo algumas das principais fake news sobre as vacinas bivalentes.

– Vacina bivalente causa problemas cardíacos: Desde o início da vacinação, circula uma nota da Anvisa de 2021 que alerta sobre possíveis riscos de miocardite e pericardite, tipos de inflamação no coração, após o imunizante da Pfizer. Isso porque a análise das doses passa por um controle rígido das autoridades sanitárias, que monitoram qualquer efeito adverso das aplicações, ainda que sejam poucos.

De fato, o efeito foi confirmado, embora considerado extremamente raro – uma ampla análise com mais de 190 milhões de vacinados publicada na JAMA Network Open constatou pouco mais de oito ocorrências a cada um milhão de doses. A maioria dos casos se resolveram sozinhos, e os estudos comprovaram que a baixa incidência faz com que os benefícios ultrapassem, em muito, qualquer risco.

“Com as doses bivalentes, os efeitos adversos estão na mesma frequência que com as doses anteriores, elas não têm efeitos adicionais. Esses eventos, muito raros, existem, mas o risco é muito pequeno em relação ao enorme benefício em prevenir a evolução para Covid grave”, diz o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Alexandre Naime Barbosa, professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp).

Isso porque, do outro lado, a Covid-19 é uma doença que já foi associada a inúmeras complicações para não vacinados, inclusive de miocardite. Um trabalho com 43 milhões de britânicos, publicado na revista científica Circulation, mostrou que a doença oferece um risco até 11 vezes maior de desenvolver uma inflamação do miocárdio do que o observado pelas vacinas.

“Quem de fato tem capacidade de aumentar risco de doença cardiovascular e muitas outras doenças é a própria Covid-19. É indiscutível a relação do vírus com essas complicações, e a vacina bivalente é a mesma estrutura da que já foi aplicada em bilhões de doses pelo mundo, a segurança observada é a mesma”, lembra a diretora do comitê de imunizações da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Rosana Richtmann.

Recentemente, devido ao mesmo olhar atento de antes, a agência reguladora dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), afirmou investigar uma possível relação entre alguns casos de derrame e a aplicação da dose bivalente em idosos. Porém, as análises de mais de 4 milhões de indivíduos, junto ao contato com agências de outros países, “não indicaram nenhum risco aumentado de derrame”.

– Imunizante não aumenta proteção contra a Covid-19: Outro argumento que tem sido compartilhado é de que a vacina bivalente não seria necessária, pois não aumentaria a proteção contra a Covid-19. Porém, a imunologista e doutora em Biociências e Fisiopatologia, Letícia Sarturi, explica que a nova formulação induz uma resposta mais específica às variantes atuais do vírus, e por isso melhoram sim a resposta imunológica do organismo.

“A imunidade com a vacinação vai se especializando a cada nova dose, porque o sistema reconhece de maneira mais específica aquela proteína do vírus, gerando células de memória que duram mais tempo. Com as doses bivalentes, essa especialização é ampliada para as mutações da Ômicron, é uma nova parte do vírus que o sistema imune passa a reconhecer e combater melhor”, explica a especialista.

Esse benefício na parte clínica tem sido comprovado por diversas análises. Uma revisão da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA) deste mês constatou que aqueles que receberam a dose bivalente tiveram uma redução de 52,1% nas hospitalizações pela Covid-19 em comparação com os vacinados há pelo menos seis meses que não receberam a aplicação extra. As informações são do jornal O Globo.

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