Segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 14 de junho de 2015
O empresário e ex-bilionário Eike Batista pode ser convocado a prestar esclarecimentos na CPI da Petrobras. Um requerimento para que ele seja chamado a depor sobre conexões de seus negócios com as consultorias ligadas a petistas deve ser votado nesta semana.
No caso de Eike, as suspeitas envolvem o consórcio Integra – constituído por sua empresa de estaleiros, a OSX (em recuperação judicial), e pela construtora Mendes Júnior (cujos dirigentes foram indiciados na Operação Lava-Jato) –, que venceu a concorrência para a fabricação de duas plataformas de petróleo para a Petrobras, a P-67 e a P-70. O preço do negócio chega a 900 milhões de reais por cada plataforma. Nenhuma delas está pronta.
Contrato
O contrato da Integra foi celebrado em agosto de 2012. Meses depois, foi sua vez de contratar. Pagou comissão de 4,5% da quantia citada no acordo, ou 6 milhões de reais, a uma empresa de consultoria, a Isolux/Tecna. O trabalho consistia em fazer um levantamento de fornecedores que oferecessem certos produtos a preços que coubessem no orçamento de 132 milhões de reais.
A Isolux/Tecna recebeu sua comissão, mas não teria prestado o serviço. É justamente para esclarecer se existe algum vínculo irregular entre os dois negócios que o deputado Altineu Côrtes (PR-RJ) apresentou o requerimento de convocação de Eike à CPI.
O diretor da Isolux, Júlio Oliveira Silva, é ligado a um personagem bastante conhecido dos investigadores da Lava-Jato: o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que recebeu entre 2006 (um ano após deixar o governo Lula) e 2013, segundo se comprovou até agora, 29 milhões de reais em consultorias a clientes como as empreiteiras OAS, UTC, Engevix, Galvão Engenharia e Camargo Corrêa, todas enredadas no esquema de corrupção da Petrobras.
Tão ligados que, no mundo do lobby de Brasília, Silva é chamado de Júlio do Zé Dirceu. Quando negociou pela Isolux o contrato com o Integra de Eike, em 2013, o Silva era ao mesmo tempo sócio de Dirceu em outra firma, a JD Consultoria.
Na mesma Isolux prestava serviços a ex-ministra chefe da Casa Civil Erenice Guerra. E no Palácio do Planalto, por onde tanto Erenice quanto Dirceu já haviam passado, ainda batia ponto na época a mulher de Silva, Antonieta, como funcionária da Secretaria-Geral da Presidência.
Procurados, nem Eike, nem o consórcio Integra, nem a Petrobras quiseram se manifestar. Já a Isolux informou que Júlio Silva cuida exclusivamente de temas comerciais e nunca teve ligação direta com os contratos envolvendo o consórcio das plataformas.
Ex-funcionário do Serpro, o serviço de processamento de dados do governo federal, Silva trabalhou por anos em Brasília como representante de uma multinacional de informática. Na função, selava contratos com o setor público, e se aproximou de petistas importantes. Em 2009, largou tudo para virar consultor de negócios de Dirceu. Eventualmente, tornou-se sócio na JD. Na CPI, os sócios do Integra podem ter de explicar como venceram a concorrência, por que contrataram a consultoria e que tipo de serviço a Isolux prestou.
Dono da oitava maior fortuna do mundo há apenas três anos, o empresário Eike Batista é hoje um homem de 5 milhões de dólares. Em março de 2012, ele possuía um patrimônio avaliado em 34,5 bilhões de dólares. O que tem hoje certamente o coloca no topo da pirâmide de renda no Brasil, mas é menos, muito menos do que auferia no ápice de sua carreira empresarial. Seu plano era ser o mais rico do planeta.