O comércio exterior da Rússia vem sofrendo grandes golpes após as ameaças de sanções dos Estados Unidos contra bancos em terceiros países, inclusive na China, que sejam considerados facilitadores dos esforços de guerra de Moscou na Ucrânia.
No período de janeiro a abril, as importações totais da Rússia caíram 10% em comparação aos mesmos meses de 2023, segundo o Banco Central da Rússia. As importações provenientes da China, das quais a Rússia tem alta dependência para conseguir suprimentos de guerra, tiveram forte queda desde março.
As exportações chinesas para a Rússia, em dólares, diminuíram 14% no acumulado do ano, segundo a agência aduaneira da China. Em março, a queda foi de 16%, a primeira anual desde junho de 2022.
Por categoria, entre as exportações que foram afetadas estiveram as de aço, alumínio e bens eletrônicos.
“Desde março, só conseguimos concluir transações com clientes russos por meio de certos bancos”, disse uma fonte de uma empresa logística chinesa.
A fiscalização desses bancos também se tornou mais rigorosa e “demora um mês ou mais para que o dinheiro seja recebido”, disse a fonte.
O comércio russo com outros países com os quais tem relações amistosas, além da China, também vem sofrendo. As exportações turcas para a Rússia caíram cerca de 30% no período de janeiro a março, na comparação anual, enquanto as exportações do Cazaquistão caíram 25%.
Em 2023, o comércio bilateral entre a Rússia e a China foi recorde. Componentes avançados chineses também chegaram à Rússia através de países como Turquia, Armênia e Cazaquistão, o que, acreditam os EUA, ajudou a acelerar a produção militar da Rússia.
A recente queda no comércio se dá enquanto Washington planeja sanções financeiras adicionais para cortar o fluxo desses componentes.
Em 2022, os EUA e a Europa excluíram os principais bancos russos do sistema internacional de pagamentos Swift. Os russos responderam abrindo contas bancárias na China e em outros países para manter o comércio fluindo.
Para reprimir essas práticas, o presidente americano Joe Biden sinalizou em dezembro que Washington sancionaria bancos de terceiros países que facilitassem transações ligadas aos esforços de guerra russos. Funcionários de alto escalão dos EUA, como a secretária do Tesouro, Janet Yellen, também advertiram, durante viagens à China e a outros países, que empresas negociando com nomes sancionados poderiam perder o acesso ao mercado dos EUA.
A ameaça de sanções dos EUA levou mais bancos a evitar transações ligadas à Rússia. O Industrial and Commercial Bank of China (ICBC) e outras instituições chinesas recusaram-se a processar liquidações em yuan provenientes da Rússia. A certa altura, cerca de 80% das liquidações comerciais entre os dois países estavam suspensas.
Em janeiro, instituições financeiras importantes na Turquia começaram a informar clientes envolvidos na indústria de defesa da Rússia que suas contas seriam fechadas. Os bancos turcos também estão demorando mais para fiscalizar documentos e dados relacionados a transações de outros tipos de empresas russas.
Bancos dos Emirados Árabes Unidos, como o First Abu Dhabi Bank e o Emirates NBD, seguiram o mesmo caminho. Em maio, foi noticiado que vários bancos mongóis interromperam liquidações relacionadas à Rússia.
Bancos cazaques também começaram a recusar cartões de crédito russos.
Pagamentos de fabricantes russos relativos a componentes eletrônicos não têm sido processados por bancos chineses desde o fim de março, segundo noticiado pelo jornal russo “Kommersant”. Embora, por enquanto, muitas empresas russas estejam usando seus estoques, prevê-se que a escassez de peças eletrônicas e outros componentes se agrave no verão europeu e nos meses seguintes, o que elevaria o preço de carros e outros produtos e reacenderia a inflação.
Em relatório de maio, o banco central da Rússia informou que as sanções dos EUA desde o outono têm como alvo não apenas empresas russas, mas também as de países amigos de Moscou. Também alertou para o declínio no comércio exterior e para as complicações cada vez maiores para fazer liquidações transfronteiriças.
Em entrevista coletiva após uma reunião de cúpula em 16 de maio com o presidente chinês Xi Jinping, Putin pediu apoio governamental para liquidações transfronteiriças. A China ainda não deu uma resposta oficial.
Acredita-se que a Rússia, cuja ofensiva no nordeste da Ucrânia foi intensificada, esteja sofrendo com a falta de armas mais avançadas. Novas interrupções no comércio poderiam complicar a produção de armas e enfraquecer a capacidade de sustentar seus esforços de guerra. As informações são do jornal Valor Econômico.