Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 10 de novembro de 2023
Embaixador israelense em Brasília, Daniel Zonshine, esteve na Câmara dos Deputados nesta semana apresentar imagens dos ataques do Hamas a Israel, em 7 de outubro.
Foto: Valter Campanato/Agência BrasilA Operação Trapiche, que prendeu nesta semana duas pessoas sob suspeita de planejar atentados terroristas contra alvos judaicos no Brasil, está provocando uma crise entre o governo brasileiro e Israel, com reflexos na política interna.
Segundo a Polícia Federal (PF), os alvos da operação tinham ligação com o grupo político e paramilitar Hezbollah, sediado no Líbano e ativo na Cisjordânia. Um dos presos teria admitido que participava do recrutamento de pessoas para o Hezbollah. De acordo com relatórios da PF e de grupos de inteligência, o Hezbollah teria laços com a comunidade de imigrantes libaneses e seus descendentes, principalmente da região da tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai.
O descontentamento de integrantes do governo Lula com Israel e seus emissários já vinha de alguns dias, em virtude da demora na retirada dos 34 brasileiros que querem deixar a Faixa de Gaza. A expectativa era de que o grupo saísse nesta sexta-feira (10) do território palestino. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, confirmou que a passagem foi fechada.
“Apesar de terem sido levados até o posto de controle, eles não puderam passar. A passagem é complexa, porque o posto de controle de Rafah fica aberto durante apenas algumas horas por dia, e existe um entendimento de que ambulâncias passam primeiro. Foi o que aconteceu hoje”, declarou Vieira.
O grupo integra a sétima lista de estrangeiros que haviam sido autorizados a deixar o território nesta sexta. Desde cedo, eles estavam em frente ao posto de controle da cidade fronteiriça de Rafah, que atualmente é a única via de saída da Faixa de Gaza, aguardando para poder sair. Uma nova tentativa será feita neste sábado (11), segundo afirmou o embaixador do Brasil na Palestina, Alessandro Candeias.
Atrelado a isto, também, o comunicado do gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que atribui ao serviço secreto do país, o Mossad, parte do mérito pela Operação Trapiche. Causou incômodo no governo a entrevista do embaixador israelense em Brasília, Daniel Zonshine, ao jornal O Globo, na qual afirma que “o interesse do Hezbollah em qualquer lugar do mundo é matar os judeus” e que, “se escolheram o Brasil, é porque tem gente que os ajuda”. Entre políticos da direita, é comum o discurso de que o governo Lula é aliado de grupos como Hamas e Hezbollah.
A resposta ao comunicado de Netanyahu veio pelo ministro da Justiça, Flávio Dino. Ele afirmou que “nenhuma força estrangeira manda na Polícia Federal”. “O Brasil é um país soberano”, escreveu Dino, na rede social X. “A cooperação jurídica e policial existe de modo amplo, com países de diferentes matizes ideológicos, tendo por base os acordos internacionais.”
A PF reagiu à fala de Zonshine. Em nota em que se refere apenas a “autoridades estrangeiras”, o órgão diz que “manifestações dessa natureza violam as boas práticas da cooperação internacional e podem trazer prejuízos a futuras ações nesse sentido”. Internamente, Itamaraty e Planalto também reconhecem o desconforto.
A essa tensão somam-se aquelas geradas no front interno. Um dos focos foi o encontro do ex-presidente Jair Bolsonaro com o embaixador, ocorrido nesta semana, na Câmara dos Deputados. O objetivo da visita do embaixador ao Congresso era apresentar imagens dos ataques do Hamas a Israel, em 7 de outubro. Em nota, a embaixada declarou que Bolsonaro apareceu sem ser convidado na reunião da Câmara, e agradeceu ao governo brasileiro pela operação contra o Hezbollah.