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Por Redação O Sul | 11 de janeiro de 2022
As crianças de 5 anos foram as que mais morreram no Brasil em decorrência da covid-19 desde o início da pandemia no País entre a faixa etária apta à vacinação infantil, segundo dados contabilizados pelos Cartórios de Registro Civil.
Entre março de 2020 e janeiro deste ano, foram notificados 65 óbitos por coronavírus nesta idade, de um total de 324 vítimas da enfermidade na faixa etária de 5 a 11 anos, que será contemplada pelo plano nacional de imunização previsto para começar a partir desta sexta-feira (14).
A vacinação infantil foi autorizada em dezembro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas a decisão enfrentou resistência do governo. Após consulta pública, o Ministério da Saúde definiu que não vai exigir receita médica para a imunização das crianças entre 5 e 11 anos, conforme pretendido inicialmente. A autorização dos pais também será apenas uma recomendação, e não obrigatória como havia sido anunciado.
Dados compilados do Portal de Transparência de Registro Civil mostram que as crianças de 6 anos foram o segundo grupo mais afetado entre a faixa etária infantil, com 47 mortes por covid-19. Em seguida, vêm as que possuem 7 e 11 anos, ambas com 46 óbitos cada. Houve ainda 43 vítimas com 10 anos, 40 com 9 anos, e 37 com 8 anos.
Segundo o pediatra e infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, apesar dos números, não há muita diferença em relação a formas graves da covid-19 nessa faixa etária entre 5 a 11 anos. Crianças menores de 2 anos, ao contrário, estariam mais vulneráveis em razão da imunidade ainda imatura.
“Dentro da pediatria, os extremos são os que têm formas mais graves. Os menores de 2 anos e os maiores de 11 anos, já dentro da adolescência. Entre os de 2 anos e 10 anos, praticamente não há muita diferença. O risco dobra entre menores de 2 anos e maiores de 11 quando se compara com os de 2 a 10 anos. Mas não há muita diferença entre 5, 7 ou 9. É mais ou menos muito semelhante. Em geral, é isso que a gente vê nas curvas de distribuição de faixa etária de formas graves”, afirma.
Entre os Estados brasileiros, São Paulo, o mais populoso do País, respondeu percentualmente por 22,8% dos óbitos de crianças nesta faixa etária, seguido por Bahia (9,3%), Ceará (6,8%), Minas Gerais (6,5%), Paraná (6,2%), Rio de Janeiro (5,9%) e Rio Grande do Sul (4%). Amapá, Mato Grosso e Tocantins foram as unidades que registraram o menor número de óbitos na faixa etária.
Críticas do presidente
O presidente Jair Bolsonaro criticou na última semana a autorização de imunizantes contra a covid para crianças entre 5 e 11 anos, questionando “qual o interesse das pessoas taradas por vacina”. O chefe do Executivo disse que os pais de crianças não devem se deixar levar pela “propaganda” e afirmou desconhecer casos de óbitos causados pela doença nessa faixa etária.
Após a fala de Bolsonaro, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) repudiou as declarações e afirmou que “o discurso pode causar hospitalizações, mortes e sofrimento evitáveis”.
“Ao deturpar informações apresentadas por renomados cientistas na audiência pública, menosprezar as sérias complicações da doença na população infantil — ignorando centenas de óbitos — e criar artifícios para adiar o início da vacinação, o mandatário cria um desnecessário clima de medo, que pode motivar inúmeros pais ou responsáveis a não levarem suas crianças às salas de vacinação”, disse a entidade em nota.
Dois dias antes dos ataques de Bolsonaro, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) defendeu a vacinação infantil em posicionamento interpretado como um recado ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ex-presidente da entidade. Em nota, a SBC citou que ao menos 16 países, entre eles Alemanha, Argentina, Canadá, China, Espanha, EUA e Israel, já vacinam menores de 12 anos.
Ao todo, são cerca de 20 milhões de crianças com idade entre 5 e 11 anos no Brasil. Isso significa que para a imunização completa, com duas doses, são necessárias 40 milhões de vacinas. A previsão é que cerca de 3,7 milhões de doses pediátricas cheguem ao país em janeiro. O montante deve alcançar 20 milhões até o fim do primeiro trimestre.
Se essa previsão se mantiver, irá demorar ao menos três meses para imunizar todas as crianças com ao menos uma dose. O intervalo entre as doses será de oito semanas — prazo maior que o de três semanas aprovado na bula da Anvisa.