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Saúde Crianças devolvidas após a primeira adoção superam os traumas e vivem felizes com os novos pais

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Beatriz reencontrou a alegria nos braços de Armando e Katya Char. (Foto: Reprodução)

Recém-chegada ao novo lar, a pequena Beatriz criou uma rotina: levantava de madrugada para ver se Armando e Katya Char estavam no quarto ao lado. Com medo de ser abandonada, ficava minutos parada diante da cama dos pais até ter certeza de que não sairiam dali.

Beatriz, que hoje tem 7 anos, passou pelo primeiro processo de adoção aos 3, mas após um período de convivência com a antiga família acabou sendo devolvida ao abrigo. Aquela segunda rejeição em seu pouco tempo de vida aprofundou as marcas deixadas, antes, pelo abandono da mãe biológica.

Beatriz foi devolvida pela primeira família que a adotou. (Foto: Reprodução)

Beatriz foi devolvida pela primeira família que a adotou. (Foto: Reprodução)

“Ela [Beatriz] detesta ficar sozinha, mesmo que por 2 minutos. Para dormir, ainda quer a companhia de um de nós, acorda e vai até nossa cama para se certificar que estamos lá. É o medo de um novo abandono”, afirma Armando Char.

Dados da Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça dão conta de que o caso de Beatriz é raro, mas não tanto quanto se imagina. Desde 2008, quando foi criado o Cadastro Nacional de Adoção, 130 crianças entre as 5.561 cadastradas foram devolvidas por pais adotivos. A corregedoria alerta que o número pode ser bem maior, já que nem todos os juízes atualizam o cadastro corretamente. Os pais muitas vezes põem a culpa na criança, dizendo que ela mente ou se comporta mal, mas os motivos, em geral, são considerados banais pelos profissionais da área.

Os dados tratam de crianças rejeitadas durante o estágio de convivência, quando ainda não foi formalizada a adoção. Nesta situação, não é proibida a desistência. Mas há casos de devolução depois de proferida a sentença, o que é considerado abandono. Em novembro, a Justiça do Distrito Federal mandou uma mulher indenizar em 100 mil reais uma garota devolvida ao abrigo cinco anos depois de adotada.

Apesar da insegurança da filha, Armando conta que foi Beatriz quem “os adotou”. Mas, antes, ela precisou ser convencida de que os novos pais não a devolveriam. A menina assumiu um comportamento bagunceiro para ver se a adoção era mesmo para valer.

“Percebemos que a agitação era própria de quem queria espaço na nossa vida. Era como se ela dissesse ‘vocês querem me adotar, mas eu vou mostrar que não sou uma bonequinha, vamos ver se vocês querem mesmo’”, ressalta Char. “Com persistência, quebramos isso. É muito difícil ver a esperança de ter uma casa, de ser acolhida por uma família, desmoronar com o simples desaparecimento de um casal.”

Em 2009, a pedagoga Érica Marinho, 34 anos, viajou 17 horas para finalmente conhecer a menina que já “namorava” por fotos havia meses. Érica chegou a Minas Gerais com o marido, Pedro, e o filho biológico Kauã, mas preferiu ir sozinha conhecer a pequena. Incerta sobre seus próximos passos, parou um instante e fitou as crianças pela janela que dava acesso ao pátio.

Jéssica recebe o carinho da mãe, Érica. (Foto: Reprodução)

Jéssica recebe o carinho da mãe, Érica. (Foto: Reprodução)

Percebeu que todas corriam, menos uma, que a observava com atenção: era Jéssica, à época com 5 anos, a menina que a pedagoga adotaria dias depois. Jéssica já passara por uma adoção malsucedida no ano anterior. Destituída da família biológica quando tinha 1 ano, foi adotada por um casal do Rio, com o qual ficou por apenas um mês e meio. Um dia, foi devolvida ao abrigo sem maiores explicações.

“Eles chegaram a me matricular em uma escola, em aula de judô e balé. Um dia, falaram que iriam me devolver e mais nada. Eu só me lembro deles arrumando a minha mala”, conta Jéssica, hoje aos 12 anos.

O sentimento vivido por Beatriz, Jéssica e outras crianças devolvidas no País durante um processo de adoção não raro é enquadrado por defensores públicos na Teoria da Perda da Chance, que prevê ressarcimento pela perda de determinada oportunidade. Segundo a defensora pública Daniela Calandra, a devolução de uma criança frustra suas expectativas de futuro.

“Elas passam por sofrimento e têm dificuldade de acreditar no outro. Nesses casos, há um despreparo do casal para a adoção. Os motivos de devolução são os mais pífios, porque a criança é ‘birrenta’ ou não fazia os trabalhos domésticos. Os filhos biológicos também vão gerar frustrações nos pais, mas é comum o adotante depositar na criança a expectativa de resolver as frustrações do casal.” (AG)

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https://www.osul.com.br/criancas-devolvidas-apos-primeira-adocao-superam-trauma-e-vivem-felizes-com-novos-pais/ Crianças devolvidas após a primeira adoção superam os traumas e vivem felizes com os novos pais 2015-12-21
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