Quinta-feira, 09 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 5 de fevereiro de 2024
Em 2021, o Brasil registrou 45.562 homicídios, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas.
Foto: Fernando Frazão/Agência BrasilA insegurança tem custado caro ao desenvolvimento brasileiro. O Produto Interno Bruto (PIB) do País poderia crescer 0,6 ponto porcentual a mais se o nível de criminalidade recuasse para o da média mundial, revela um estudo conduzido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
“Considerando as nossas estimativas iniciais, elas sugerem que reduzir completamente a lacuna nas taxas de criminalidade entre o Brasil e a média mundial aumentaria o crescimento do PIB real (brasileiro) em 0,6 ponto porcentual, pelo menos por algum tempo”, afirmam Rodrigo Valdés e Rafael Machado Parente, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI e economista do Fundo, respectivamente.
O cenário é bastante delicado para o Brasil, até mesmo quando comparado com os demais países da América Latina como um todo. Na região, a violência tem um impacto econômico um pouco menor, de 0,5 ponto porcentual. “O crime afeta diretamente a vida de milhões de pessoas, impondo grandes custos sociais”, apontam Valdés e Parente.
Na última semana, o Brasil se deparou com um exemplo clássico de como a violência afeta a economia. Na rua Santa Ifigênia, centro de comércio eletrônico na cidade de São Paulo, um empresário teve uma loja invadida. Vítima de uma região insegura, calculou um prejuízo de R$ 300 mil e decidiu fechar seu estabelecimento.
Nos últimos anos, o número de estabelecimentos comerciais na região despencou. Em 10 anos, a quantidade de empresas caiu de 15 mil para cerca de 2,5 mil, de acordo com o presidente da União Santa Ifigênia, Fabio Zorzo. O movimento, claro, também tem a ver com o fortalecimento do comércio eletrônico, mas passa pela insegurança enfrentada diariamente por empresários.
“A violência, óbvio, vem atrapalhando todo o movimento da região central. Estamos perdendo empregos e empresas”, afirma Zorzo.
Nas últimas décadas, sobram exemplos de como a América do Sul sofre com a elevada criminalidade. A Colômbia foi um dos casos mais emblemáticos de enfrentamento da guerra ao narcotráfico e vê uma volta da violência. No Equador, houve uma onda da violência em janeiro, e o Brasil tem colhido números alarmantes de homicídios.
Em 2021, o Brasil registrou 45.562 homicídios, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), o que equivalia a uma taxa de 21,26 assassinatos por 100 mil habitantes. Na Colômbia, essa relação era de 25,67. Os números dos dois países são bem acima da média mundial, que é de 5,8 homicídios por 100 mil habitantes.
São várias as formas pelas quais a violência afeta o desempenho da economia, com impactos diretos na produtividade. “E para um País crescer, ele precisa ter produtividade”, diz Daniel Cerqueira, membro do conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
O Brasil e outros países da região, por exemplo, despejam recursos, nem sempre com qualidade, na área de segurança pública que poderiam ser aplicados de forma melhor ou destinados para outras áreas públicas, como saúde e educação, mas também em perdas para trabalhadores e companhias.
“Nossas descobertas destacam que o crime prejudica a acumulação de capital, possivelmente afastando investidores que temem roubo e violência, e diminui a produtividade da economia, desviando recursos para investimentos menos produtivos, como aqueles que aumentam a segurança de propriedades privadas”, pontuam os pesquisadores do FMI.
Do lado dos trabalhadores, a violência e a sensação de insegurança acarretam numa perda de produtividade com anos de escolaridades que são perdidos, por exemplo, nos casos de homicídios.
“Os custos da violência no PIB se dá por vidas perdidas, afetando mais os jovens que ainda tem toda uma vida ativa. O homicídio traz esse custo direto”, afirma Marcelo Neri, diretor da FGV Social. “Há também um custo de hospitalização e de dias perdidos de trabalho.”
Para as empresas, pode representar um aumento de custo de produção, o seguro para fretes, por exemplo, costuma ser mais alto em lugares violentos, e há dificuldade em retenção de mão de obra. “As pessoas se mudam (de lugares violentos). A empresa tem dificuldade de atrair mão de obra”, afirma Cerqueira.
A leitura dos analistas é que resolver a questão, ou ao menos mitigar o impacto da violência na economia – depende de ações bem planejadas e conduzir gastos inteligentes. O primeiro passo, dizem, é ter um bom diagnóstico.
“Muitas cidades medem apenas os homicídios e as denúncias formais de crimes, e outras formas de violência são deixadas de fora das políticas públicas”, diz Tobón.
Ele também pondera que é preciso reduzir o tamanho das organizações criminosas que atuam na América Latina e o interesse dos jovens por ingressar em grupos organizados.