Sábado, 28 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 11 de novembro de 2024
Antonio Gritzbach foi executado por dois homens encapuzados, que fizeram 29 disparos com fuzis.
Foto: ReproduçãoO empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, de 38 anos, assassinado no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, tinha entregado ao Ministério Público (MP-SP) áudios de uma conversa entre um policial civil e um integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC), em que eles negociam valores para matá-lo. No diálogo, é citado o valor de R$ 3 milhões como uma possível recompensa para matar o empresário.
A gravação foi entregue ao Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (Gaeco) após homologação de acordo de delação premiada em abril de 2024. Vinícius colaborava com investigações do MP-SP sobre acionistas de uma empresa de ônibus ligada ao PCC.
Na ligação, realizada para o celular do policial e ouvida em viva-voz por Vinícius, o interlocutor discutiu valores e perguntou se os R$ 3 milhões seriam suficientes para “encomendar” o crime, revelou a coluna de Josmar Jozino, no UOL.
No áudio entregue pelo empresário, ele revela detalhes de como o PCC pretendia matá-lo. A motivação para o atentado contra Antônio Vinícius estaria ligada às delações que ele fez sobre crimes cometidos pelo PCC.
Antônio Vinícius estaria envolvido em um processo pela morte do narcotraficante Anselmo Becheli Santa Fausta, o “Cara Preta”, e de Antônio Corona Neto, o “Sem Sangue”, assassinados em dezembro de 2021 na zona leste de São Paulo. O suposto executor do crime, Noé Alves Schaum, também foi morto um mês depois.
Jozino aponta que, para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Antônio Vinícius havia mandado matar Cara Preta depois de ter recebido R$ 40 milhões para investir em criptomoedas, desviar o dinheiro e ser descoberto. Após o golpe, o empresário passou a ser ameaçado de morte.
Entenda
A Corregedoria da Polícia Militar havia instaurado um inquérito para apurar o suposto envolvimento dos seguranças do delator com a facção criminosa. Os cinco seguranças de Gritzbach são praças da Polícia Militar (soldados, cabos e sargentos) e foram indicados pelo mesmo tenente. Após desembarcar no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, Gritzbach foi executado por dois homens encapuzados, que fizeram 29 disparos com fuzis.
Depois do assassinato, os corregedores revisitaram o Inquérito Policial Militar (IPM) e verificaram que os nomes dos seguranças de Gritzbach já apareciam na investigação. Agora, vão juntar informações que constavam no IPM com os novos elementos, obtidos principalmente após a apreensão dos celulares dos PMs que trabalhavam para Gritzbach.
“Já existe um inquérito policial militar instaurado pela Corregedoria da Polícia Militar apurando a conduta criminal dos policiais militares mencionados. Não só os que estavam ali realizando a escolta nesse dia, mas eventualmente de outros policiais militares envolvidos com qualquer indivíduo da facção criminosa Primeiro Comando da Capital. Já tem mais de um mês que esse inquérito foi instaurado e ele está sendo instruído pela corregedoria. E por que só agora eu estou noticiando isso? Porque ele corre em segredo de justiça, obviamente”, disse o secretário da Segurança, Guilherme Derrite, em coletiva nessa segunda-feira (11).
“Os celulares de todos esses policiais que estavam no dia lá no aeroporto em Guarulhos foram apreendidos e eles já foram chamados pela Corregedoria da Polícia Militar e terão que explicar o que faziam, porque só o simples fato de realizarem um serviço já configura uma transgressão disciplinar que não permitida além disso estavam fazendo isso para um indivíduo criminoso”, completou.
Gritzbach estava acompanhado de um segurança durante o voo de Maceió para São Paulo, antes de ser executado no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Ele e a namorada carregavam uma mala com joias avaliadas em R$ 1 milhão. Inicialmente, a informação era a de que apenas quatro seguranças o esperavam em São Paulo.
O soldado Samuel Tillvitz da Luz, do 18° Batalhão Metropolitano, é o quinto integrante da escolta pessoal do empresário. Ele prestou depoimento à Corregedoria da PM. Samuel contou que há um ano presta serviço para Gritzbach. Na sexta, antes de o avião pousar, ele entrou em contato com a equipe em terra (formada por outros quatro PMs) por meio do celular.
Quando a equipe terrestre avisou que a área estava segura, Samuel desembarcou com Gritzbach e a namorada dele. Ele relatou que, após atravessar a porta de vidro da entrada, se posicionou à frente do casal, quando ouviu o barulho de disparos.
O segurança, então, se escondeu atrás de um ônibus estacionado e “partiu em deslocamento a pé por seu lado direito, subindo por um barranco e acessando a via que dá acesso ao pavimento superior do aeroporto”. À Corregedoria, ele explicou que estava em desvantagem, por isso decidiu proteger a própria vida. Os policiais militares, que faziam a escolta pessoal do delator do PCC, foram indicados para fazer o bico ilegal por meio de um tenente da PM.
A prática de bicos, como a segurança particular, é proibida pelo Regulamento Disciplinar da PM e é classificada como uma transgressão grave. As informações foram registradas nos depoimentos de três policiais à Corregedoria da PM e ao Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), responsáveis pelas investigações.