Quando o iconoclástico empreendedor tecnológico Moxie Marlinspike conquistou Hillary Clinton como cliente para seu app de mensagens cifradas, no ano passado, saudou a ocasião com o idealismo característico do Vale do Silício: “Acho que de alguma forma vencemos o futuro”.
Mas sua tecnologia Signal para mensagens cifradas, que é usada também para proteger a segurança das mensagens do WhatsApp e serviços semelhantes, gera controvérsias proporcionais ao seu sucesso. Os bilhões de pessoas que agora usam esses apps estão protegidos por completo segredo em suas comunicações. E estamos só começando a compreender o quanto o essa visão progressista pode ser perigosa, vista pelo avesso.
Sempre que um ataque terrorista acontece, uma das linhas importantes de investigação é descobrir como os responsáveis por ele se comunicavam. Nos dois últimos anos – em Paris, Londres e Estocolmo – a polícia expôs o papel crucial de mensagens cifradas trocadas via WhatsApp, para ataques desse tipo.
Boa parte do debate até agora vinha girando em torno do terrorismo. Mas, como o FBI (a polícia federal dos EUA) indicou nesta semana, o potencial de uso de mensagens cifradas para facilitar crimes financeiros está começando a atrair atenção. A criptografia é um problema crescente no combate a “fraudes, lavagem de dinheiro e insider trading [uso indevido de informações financeiras privilegiadas]”, disse um importante agente do FBI. Na semana passada, Daniel Riva, antigo funcionário do departamento de tecnologia do Bank of America, se admitiu culpado por divulgar a um grupo de pessoas informações secretas sobre tomadas de controle acionário. Rivas usou um serviço de mensagens criptografadas para comunicar as informações. No começo do ano, a Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido impôs a primeira multa a um financista por divulgar informações confidenciais via WhatsApp. Christopher Niehaus foi multado em 37.198 libras por repassar a amigos informações sobre transações confidenciais. (Patrick Jenkins/Financial Times)