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Criminosos têm um menor controle sobre as emoções por causa de alterações nas funções cerebrais causadas pela genética e pelo ambiente

Múltiplos fatores contribuem para comportamentos agressivos. (Foto: Reprodução)

Há muito tempo, pesquisadores buscam descobrir os fatores por trás do comportamento violento. E, cada vez mais, o cérebro tem aparecido como peça chave no caminho para uma resposta. Mas é possível decifrar a anatomia da violência? Alguns especialistas afirmam que sim.

O psiquiatra britânico Adrian Raine, da Universidade da Pensilvânia, já dedicou mais de 30 anos a tentar entender o cérebro dos criminosos. Em seus estudos, ele analisa desde crianças para saber como o comportamento se desenvolve, até presos em cadeias de segurança máxima.

Raine, que esteve no Brasil em junho, participando do 14° World Congress on Brain, Behavior and Emotions, em Porto Alegre, sugere que a propensão à violência ocorre pela soma de alterações nas funções cerebrais causadas pela genética – a amígdala dos psicopatas seria até 18% menor do que o normal – e pelo ambiente – como mães que fumam durante a gravidez e má alimentação nos primeiros anos de vida.

Dizer que o cérebro é um dos responsáveis pela propensão à violência pode parecer simples hoje, mas durante anos despertou muitos questionamentos. Raine começou a fazer tomografias cerebrais em homicidas em prisões americanas ainda nos anos 80.

Anatomia da violência 

Essas pesquisas incipientes já mostravam que os cérebros dos homicidas tinham uma redução significativa no córtex pré-frontal em relação aos demais participantes do estudo.

À medida que as pesquisas avançaram, conta Raine, ele e outros neurocientistas começaram a chegar a resultados semelhantes sobre a relação dessa diferença com maior propensão a comportamentos violentos.

O neurologista Ricardo de Oliveira Souza, da Unidade de Neurologia Comportamental e Cognitiva da Rede D’Or Labs, resume um dos principais avanços no que diz respeito às pesquisas que ligam o cérebro à violência: não estudar os fatores biológicos isoladamente dos ambientais. “O que está em jogo quando se julgam responsabilidades individuais, tanto boas, quanto más, é o indivíduo, e não seu cérebro. Desconectado do corpo, o cérebro não significa nada.”

É por isso que o neuropsicólogo Vitor Geraldi Haase, professor da Universidade Federal de Minas Gerais, afirma que é possível falar de uma anatomia da violência, porém com algumas ressalvas.

Probabilidade

Há mais de 30 anos o pesquisador estuda correlações anátomo-funcionais entre o cérebro e o comportamento. Segundo ele, alterações em determinadas áreas ou circuitos cerebrais, seja sob a forma de aumento, seja de diminuição do nível de atividade, podem predispor o indivíduo a comportamentos agressivos. Mas o especialista alerta que a relação é probabilística.

“Se um tarado ejacula em uma mulher num ônibus e o juiz o solta, a probabilidade de que ele faça isso de forma recorrente aumenta. Se as instituições prenderem o malfeitor, não haverá oportunidade de praticar crimes novamente”.

A busca dos cientistas não é apenas por descobrir “a origem do mal”. Eles também procuram elucidar o que pode ser feito para evitar ou ao menos diminuir a violência.

Adrian Raine, da Universidade da Pensilvânia, defende que mães com má nutrição que bebem ou fumam durante a gestação têm o dobro de chances de gerar um filho violento.

Para o pesquisador, os estudos têm demonstrado que é possível reduzir a criminalidade oferecendo atividades físicas e melhor alimentação (a ingestão de ômega 3 é destaca por ele como essencial). Segundo Raine, um estudo realizado em Pelotas mostrou que fazendo isso com crianças de três a cinco anos, a criminalidade quando elas chegaram aos 23 anos foi reduzida em 34%. “Claro que não estamos solucionando a criminalidade mas é possível reduzi-la”, diz Raine.

Para Vitor Haase, da UFMG, como as questões ambientais não podem ser analisadas isoladamente, é preciso considerar também que a sociedade brasileira tem sido excessivamente permissiva com os comportamentos antissociais, como crimes sexuais, furto, roubo, latrocínio ou até os chamados crimes do colarinho branco.

Suas considerações vão ao encontro do que afirmou o professor da University of Southern California, Antoine Bechara, no 14° World Congress on Brain. Segundo Bechara, a mente do corrupto é como a de um psicopata, capaz de mentir, seduzir e manipular para conseguir o que quer.

Ele explica que o comprometimento funcional do córtex pré-frontal ventromedial, causado por desordens genéticas ou trauma e estresse no início da vida, desregulam sistemas neuronais que alertam para as consequências das más escolhas.

Para o neurologista Marino Muxfeld Bianchin, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, “o cuidado das crianças desde a concepção até os primeiros seis anos de vida é o melhor investimento que se pode fazer em termos de saúde mental e geral para uma população. Não, só isso, claro, mas esse período é crucial. Os governos deveriam investir nisso”.

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