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Crise da cardiologia: a ponta do iceberg

Depois de quase meio século exercendo a profissão de médico, e vivendo o pior momento da medicina em toda minha vida, não tenho dúvida em afirmar que a municipalização da saúde foi o remédio mais amargo, e com mais efeitos colaterais prescrito para tratar a saúde pública do nosso país. O contraste do momento é assustador: O maior avanço tecnológica da história caminhando ao lado da pior medicina!!

Hoje a fila para um tratamento cirúrgico é de meses ou até vários anos. Alguns não precisam esperar tanto tempo pois possuem uma doença letal!!

Na medicina, existe um aforisma antigo que diz: “Quanto maior o número de médicos, menores são as chances do paciente obter a cura”.

A responsabilidade fica diluída! No passado, com regência do governo central, todos médicos eram federais (INAMPS) e ingressavam através de concursos públicos. Hoje, ambos não existem mais. Nem médicos federais, nem concursos públicos na área da saúde. Os municípios se defendem terceirizando os serviços médicos sem nenhum critério de qualificação.

Quem sofre é a população!

Na crise do Instituto de Cardiologia um dos diretores tornou pública a queixa: “cada um dos entes federados (Município, Estado e União) precisa fazer sua parte para solucionar o problema”

Entretanto antes de entrarem em harmonia é preciso entender que tabela do SUS que orienta o pagamento das contas médico-hospitalares esta, segundo o CFM (Conselho Federal de Medicina), defasada em 1682%. Não existe maternidade em 271 dos 497 municípios gaúchos (Viamão, Guaíba, Rolante…) Hoje a equipe médica recebe por um parto R$ 175,80. Como é possível!!!

Entendendo esta situação delicada o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas reajustou há 2 meses atrás a tabela do SUS em 85%.

Adotando posição contraria, o Ministério da Saúde reduziu a tabela de procedimentos, medicamentos, órteses e próteses, em 30% em 2021.

Desde então a situação dos hospitais ficou mais dramática ainda.

O Instituto de Cardiologia que tem como mola propulsora materiais de alto custo, desfibriladores, stents, marca-passos foi muito prejudicado e assim se instalou a crise.

A Santa Casa luta heroicamente para driblar o déficit anual de 140 milhões atendendo o SUS. Ainda tem o dissabor e a vergonha de olhar tristemente, através da janela, do outro lado da rua, a Beneficência Portuguesa com 400 leitos fechados.

Srs. Políticos onde estão vocês?!

(Carlos Roberto Schwartsmann – Médico e Professor universitário)

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