Sexta-feira, 15 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 13 de maio de 2021
A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) atravessa uma crise grave há pelo menos três semanas, quando uma funcionária da entidade se licenciou por motivo de saúde. Pessoas com conhecimento da situação afirmam que ela tem provas de desvios de comportamento do presidente Rogério Caboclo, que corre risco de ter seu mandato interrompido. A ameaça à conclusão do mandato de Caboclo foi publicada inicialmente nesta quarta-feira pela ESPN
Foram ouvidas críticas à conduta de Rogério Caboclo por parte de presidentes de clubes, presidentes de federações estaduais e de dirigentes da própria CBF, além de outras pessoas com acesso frequente à cúpula da entidade. A postura do presidente da CBF é descrita por seus próprios interlocutores como “errática” e “inapropriada para o cargo”.
A quem pede um exemplo prático, essas pessoas citam uma reunião realizada no dia 10 de março com presidentes de clubes. No encontro, realizado de maneira virtual para discutir a continuidade dos jogos de futebol em meio à pandemia, Caboclo se exaltou, bateu na mesa e usou um palavrão para pressionar os clubes: “Vocês estão fodidos se não tiver [campeonatos]”.
De acordo com diversos relatos feitos à reportagem do portal Globo Esporte, uma conduta mais grave teria provocado o pedido de afastamento, há cerca de três semanas, de uma funcionária que lidava diretamente com Caboclo na CBF. A licença teria sido solicitada por problemas de saúde. Desde então, ela está incomunicável.
Na mesma semana do afastamento da funcionária, o próprio Caboclo também se afastou da CBF. Oficialmente se tratou de uma semana de férias, previamente programadas. Mas diversas fontes ouvidas pela reportagem, de dentro e de fora da confederação, afirmam que a saída de cena foi abrupta.
No dia 4 de maio, uma terça-feira, Rogério Caboclo voltou a trabalhar presencialmente no prédio da entidade, na Barra da Tijuca. Seria um esforço, segundo interlocutores do próprio presidente, para demonstrar aos funcionários da CBF que a situação estaria sob controle. Um dia depois, o site da CBF publicou uma nota sobre a visita do técnico do Vasco, Marcelo Cabo, à entidade.
Ao longo da semana passada, a crise na CBF era tema de conversas até em círculos distantes do futebol. O que pôde ser comprovado por três notas publicadas no jornal “O Globo” no último fim de semana. No sábado, o colunista Ancelmo Gois escreveu: “É dura a vida do presidente da CBF, Rogério Caboclo. Seu segundo problema é que alguns clubes grandes estão insatisfeitos com o modelo de organização de algumas competições”.
No domingo, o colunista Lauro Jardim acrescentou mais um personagem à história: “Para tentar estancar uma crise de muitos megatons que o assola há quase dois meses na CBF, o presidente Rogério Caboclo recorreu na terça-feira passada a Ricardo Teixeira, que nem seu aliado é. Bateu no apartamento de Teixeira para pedir ajuda”.
Na segunda-feira, Lauro Jardim também informou uma reaproximação entre Rogério Caboclo e Marco Polo Del Nero, seu padrinho político, presidente da CBF entre 2015 e 2018, quando foi banido pela Fifa de todas as atividades relacionadas a futebol.
Nas últimas semanas, tanto Teixeira quanto Marco Polo Del Nero passaram a discutir a sucessão de Rogério Caboclo. O nome que aparece com mais força nessas articulações é o de Castellar Modesto Guimarães Neto, um dos oito vice-presidentes da CBF e ex-presidente da Federação Mineira de Futebol.
Marco Polo Del Nero foi indiciado pela Justiça dos EUA de cometer vários crimes de corrupção relacionados a futebol – os mesmos pelos quais José Maria Marin, presidente da CBF entre 2012 e 2015, foi condenado pelo Tribunal Federal do Brooklyn. Del Nero nega as acusações.
Ricardo Teixeira renunciou a todos os cargos que ocupava no futebol em março de 2012, quando também era investigado dentro e fora do Brasil. Ele também nega todas as acusações. Apesar de estarem formalmente afastados do futebol, Teixeira e Del Nero continuam exercendo grande influência sobre o futebol brasileiro, como foi possível observar ao longo das últimas três semanas.
O estatuto da CBF prevê que em caso de vacância do cargo de presidente, seu vice mais velho deve assumir e convocar uma nova eleição dentro do prazo de trinta dias. Dessa eleição só podem participar os vice-presidentes. O eleito comandaria a CBF até o fim do mandato atual, que termina em abril de 2023.
Ou seja, caso Caboclo deixe o cargo, Antonio Carlos Nunes teria que convocar uma eleição entre Antônio Aquino (Acre), Ednaldo Rodrigues (Bahia), Castellar Guimarães (Minas Gerais), Fernando Sarney (Maranhão), Francisco Noveletto (Rio Grande do Sul), Marcus Vicente (Espírito Santo) e Gustavo Feijó (Alagoas), além do próprio Nunes.