Sábado, 11 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 28 de junho de 2017
Um helicóptero dispara contra o TSJ (Tribunal Supremo de Justiça) e o Ministério do Interior da Venezuela. Quatro granadas são lançadas e 15 tiros disparados – ninguém é ferido.
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, chama o ocorrido de “ataque terrorista”. A culpa recai sobre um inspetor de polícia, que também é “piloto, paraquedista, mergulhador e ator”, e se apresenta, em um vídeo, como “guerreiro de Deus”. O governo diz que ele tem ligações com a CIA, a agência de inteligência norte-americana.
Esses desdobramentos, ocorridos na terça-feira (27) em Caracas, dão um tom de surrealismo à situação no país vizinho ao Brasil, marcada por tensão e uma onda protestos contra o governo que já deixou quase 80 mortos.
Vídeos circularam nas redes sociais mostrando um helicóptero azul com um emblema da polícia sobrevoando o edifício do TSJ.
Também foram compartilhadas imagens dos tripulantes da aeronave segurando um cartaz no qual se leem a palavra “liberdade” e o número 350, em referência ao artigo da Constituição venezuelana sobre desobediência civil.
Por trás da ação está um grupo que reúne militares, policiais e civis.
O único integrante identificado até agora foi o inspetor Óscar Pérez, do Corpo de Investigações Científicas, Penais e Criminalísticas, que o governo acusou de ter ligações com a CIA e a embaixada dos Estados Unidos.
Segundo o ministro de Informação da Venezuela, Ernesto Villegas, Pérez roubou um helicóptero pouco depois de publicar em suas redes sociais um vídeo em que fala do governo como “transitório e criminoso” e diz fazer uma ação para “devolver o poder ao povo democrático”.
Villegas afirmou que quatro granadas – uma não explodiu – foram lançadas e 15 tiros disparados.
Além disso, o ministro associou Pérez ao ex-ministro do Interior Miguel Rodríguez Torres, agora crítico do governo.
Horas antes, os deputados da Assembleia Nacional, controlada pela oposição, enfrentaram agentes da Guarda Nacional e denunciaram o cerco do palácio legislativo por parte dos simpatizantes do presidente.
Crise
A divulgação das imagens do helicóptero aprofundou a tensão em um país dividido, onde o governo acusa a oposição de estar tramando um golpe de Estado.
Nas redes sociais, Pérez publicou um vídeo em que lê um comunicado. Ele fala de “um combate contra a morte de inocentes que lutam por seu direito contra a fome”.
“Somos uma coalizão de militares, policiais e civis em busca do equilíbrio e contra este governo transitório criminoso”, disse Pérez no vídeo à frente de quatro homens encapuzados.
O grupo, que diz não pertencer a nenhum partido político, se define como “nacionalista, patriota e institucionalista” e contrário “à tirania”.
Villegas descreveu a ação como “um ato subversivo” e um “ataque armado”. Para ele, Pérez “levantou armas contra a Constituição”.
Em comunicado do TSJ, o presidente do tribunal, Maikel Moreno, condenou o “ataque terrorista” que pôs “em perigo a integridade física dos trabalhadores e trabalhadoras que se encontravam dentro de suas salas”.
O TSJ vem sendo muito criticado pela oposição e pela procuradora-geral do país, Luisa Ortega. O órgão é acusado de ceder a exigências do Executivo, que está promovendo agora uma nova Constituinte para reformar o Estado e redigir uma nova Constituição.
As propostas são criticadas pela oposição e inclusive por alas do próprio chavismo, que acusam o governo de ter se transformado em uma “ditadura”. O Executivo, por sua vez, afirma que seus rivais políticos estão promovendo um golpe e uma intervenção estrangeira.
A onda de protestos foi motivada por decisões recentes do TSJ. A mais polêmica delas ocorreu no início de abril, quando o tribunal assumiu as funções do Parlamento. O próprio tribunal anulou a medida logo depois em meio a intensa pressão.
Policial e ator
De acordo com a imprensa venezuelana, Pérez é um agente altamente treinado, parte da Brigada de Ações Especiais, tendo chegado a ocupar a chefia de operações da Divisão Aérea da instituição.
Nos vídeos que circularam nas redes sociais logo depois do episódio, o policial é o único que mostra seu rosto.