O Banco Central afirmou nessa quinta-feira (9) que a rentabilidade do sistema financeiro brasileiro foi afetada negativamente pela crise nas Americanas. A autarquia diz que “eventos pontuais” em grandes empresas causaram uma “deterioração” nos preços de ativos no mercado de títulos privados.
A referência à crise na Americanas foi publicada na ata do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef), responsável por avaliar a saúde do sistema financeiro. Como o GLOBO mostrou, o mercado de crédito privado ficou mais restrito, e a crise em várias empresas, principalmente das Americanas, é um dos fatores para esse movimento de regresso.
“Em decorrência desses eventos (pontuais), a volatilidade, os spreads e a aversão ao risco aumentaram (…) Parcela significativa das provisões realizadas nos balanços das IFs [Instituições Financeiras] no último trimestre de 2022 decorre de evento específico relacionado a empresa de grande porte. Essas provisões respondem por porção relevante do recuo da rentabilidade anual do SFN [sistema financeiro nacional] e já absorveram a maior parte da materialização do risco”, diz a ata.
Rombo
O Banco Central faz referência ao final de 2022 porque as provisões negativas de instituições financeiras (credoras) das Americanas foram observadas nos balanços do último trimestre do ano passado. O rombo na varejista, contudo, foi anunciado publicamente em janeiro deste ano.
A autarquia também avalia que “provisões” para o sistema financeiro estão incluindo uma maior “materialização de risco” – aumento da inadimplência – para famílias e micro e pequenas empresas.
O Banco Central cita o crescimento do crédito em modalidades mais arriscadas, repercutindo no aumento do comprometimento de renda familiar e na redução da capacidade de pagamento empresas de pequeno porte.
“O apetite ao risco das IFs [Instituições Financeiras] na concessão de crédito às famílias e às empresas de menor porte apresentou redução, porém permanece elevado. Embora em desaceleração, o ritmo de crescimento segue alto em modalidades mais arriscadas, como cartão de crédito e crédito não-consignado, o que requer mais atenção em um ambiente de maior comprometimento de renda e endividamento das famílias”, dia a ata.
Crédito privado
A crise da varejista também afetou o mercado de crédito privado, que vinha crescendo no ano passado, levando as empresas a adiar a emissão de novos títulos. Em fevereiro, o volume de debêntures (títulos de crédito privado) foi de apenas R$ 6,63 bilhões. É um tombo de 64% frente aos R$ 18,69 bilhões captados em janeiro. Em 2022, as empresas brasileiras conseguiram em média R$ 22,57 bilhões por mês via emissão de debêntures, o maior patamar desde 2012.