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Crises criam vazio de poder na Europa, às vésperas do retorno de Trump nos EUA; governos europeus estão sem liderança forte e despreparados para responder à pressão nacionalista do futuro governo americano

O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz (D), e o presidente da França, Emmanuel Macron (E). (Foto: Reprodução/DPA)

Da Alemanha, onde o governo do chanceler Olaf Scholz acaba de cair, à França, onde o presidente Emmanuel Macron foi enfraquecido por meses de turbulências internas, as grandes potências europeias estão em desvantagem no momento em que encaram o ressurgimento de Donald Trump.

“Certamente não estamos bem equipados”, disse Wolfgang Ischinger, ex-embaixador da Alemanha nos EUA. “É ruim para meu país estar no meio de uma campanha eleitoral neste momento, com um debate político bastante polarizador.”

Ischinger, que presidiu a Conferência de Segurança de Munique até 2022, disse estar otimista sobre a possibilidade de a Alemanha emergir com um novo governo, provavelmente liderado pelo conservador Friedrich Merz, que poderia se envolver construtivamente com Trump.

Macron, apesar de todas as dificuldades domésticas, parece determinado a continuar a desempenhar um papel na resposta da Europa à guerra. Ele lançou recentemente a ideia de enviar uma força de paz europeia à Ucrânia, mas recebeu pouco apoio de outros países.

Ainda assim, ele e seus colegas europeus estão preocupados com outras questões, desde a economia até a ascensão de partidos populistas de extrema direita. Isso os deixa mal posicionados para responder a qualquer pressão de Trump para acabar com a guerra.

Teatro político

Nessa semana, surgiram relatos de que assessores de Trump discutiam um plano para criar uma zona-tampão entre as tropas ucranianas e russas que seria patrulhada por 40 mil soldados europeus. Essa proposta causaria indignação em Berlim e Londres, onde a recusa em enviar soldados tem sido uma regra desde os primeiros dias da guerra.

“A zona-tampão de 1.300 quilômetros entre Ucrânia e Rússia não vai acontecer”, disse Jeremy Shapiro, diretor do Conselho Europeu de Relações Exteriores, de Berlim. “A Europa não conseguiria fazer isso sem o apoio dos EUA. Mas é uma ótima peça de teatro político.”

Teatro político é uma das especialidades de Trump, que lançará outras ideias para acabar com o conflito após assumir o cargo. Difícil, disse Shapiro, será os líderes europeus não serem provocados nem divididos por Trump e garantirem que a Europa participe de qualquer negociação envolvendo EUA, Ucrânia e Rússia.

Mais fácil dizer do que fazer, dadas as contracorrentes políticas no continente. A Alemanha está envolvida em um debate acalorado sobre seu modelo econômico voltado para a exportação, em risco por causa das ameaças de tarifas propagadas por Trump.

A França está paralisada desde que Macron convocou uma imprudente eleição parlamentar, no verão passado (Hemisfério Norte). Um primeiro-ministro francês, Michel Barnier, já se foi, e seu recém-nomeado substituto, François Bayrou, já se estranha com Macron.

Mesmo o Reino Unido, onde os eleitores ungiram um governo trabalhista com maioria esmagadora, em julho, está atolado em problemas econômicos, assim como na ameaça insurgente de um partido anti-imigração, o Reform UK, cujo líder, Nigel Farage, tem ligações com Trump.

O primeiro-ministro Keir Starmer expressou o desejo de aproximar o Reino Unido do restante da Europa, mas o Brexit impede qualquer líder britânico de exercer uma função de estadista similar à que o trabalhista Tony Blair desempenhou nos anos 90.

Isso faz da Itália e da Polônia porta-estandartes improváveis da Europa. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, ganha influência enquanto diplomatas apostam que ela será capaz de construir pontes com Trump. O premiê polonês, Donald Tusk, terá papel crucial quando assumir a presidência do Conselho da UE, em 2025.

A Comissão Europeia, braço executivo da UE, quer ter um papel ativo sob sua presidente, Ursula von der Leyen. “Mas a falta de líderes de peso fortalecerá mais a atitude desrespeitosa de Trump em relação à UE”, disse o ex-conselheiro de segurança nacional britânico Peter Ricketts.

O diplomata Gérard Araud, ex-embaixador da França em Washington, afirmou: “Os três principais países europeus nunca estiveram tão fracos. E Itália e Polônia, que não têm nada em comum, não assumirão o comando, sejam quais forem suas pretensões.”

De acordo com Araud, os líderes europeus estão reeditando a cartilha que usaram durante o primeiro mandato do americano, para bajular o presidente eleito e estabelecer seus próprios acordos.

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