O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) reagiu com ironias sobre a orientação sexual a críticas do jornalista norte-americano Glenn Greenwald na manhã dessa segunda-feira. O comentário em inglês publicado no perfil do deputado no Twitter recebeu aplauso de muitos outros usuários da rede social, e também críticas apontando prática de homofobia.
Tendo se notabilizado no Brasil por ter publicado informações secretas dos Estados Unidos relacionadas ao país reveladas pelo ex-funcionário da NSA Edward Snowden, Greenwald vive no Rio e é casado com o vereador carioca David Miranda (PSOL).
Greenwald criticou uma frase do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que chamou Bolsonaro de “competente”, ao falar sobre o crescimento do deputado nas pesquisas eleitorais. Em resposta a um internauta que o questionou, o jornalista atacou Bolsonaro, chamando-o de “cretino fascista”.
Em resposta ao ataque, Bolsonaro escreveu em inglês: “‘Do you burn the donuts?’ I don’t care! Be happy! Hugs for you” (em português: “‘você queima a rosca?’ Não me importo! Seja feliz! Abraços para você!”). Em seguida, o deputado ainda publicou que Greenwald segue o padrão “vitimista da esquerda”.
O jornalista compartilhou a crítica do deputado, afirmando que “o deputado fascista responde minha crítica com uma nobre referência ao sexo anal gay, sempre em sua cabeça”.
Chávez e Pinochet
“Jair Bolsonaro é uma mistura de Hugo Chávez com Pinochet”, disse Ricardo Sennes, sócio da consultoria Prospectiva.
Augusto Pinochet foi o comandante militar do Chile entre 1973 e 1990 e Hugo Chávez foi o presidente da Venezuela entre 1999 e 2013. Os dois nomes são associados com autoritarismo, mas de lados opostos do espectro político.
“Confundir o Bolsonaro com um cara de direita liberal é um erro”, diz Sennes, notando que propostas como de colocar um militar no ministério da Educação não tem eco e que é raro o brasileiro, na média, escolher lideranças tão radicalizadas.
“O Bolsonaro morre pelas próprias palavras. Quando a sociedade começar a ouvir a ideia dele sobre ordem social, vai fugir”, diz Sennes.
Outro obstáculo para ele é que o Brasil tem hoje uma classe média que já evoluiu socialmente e por isso tem mais medo de arriscar, e ainda mais depois de experiências como Fernando Collor e Dilma Rousseff e com um cenário de consolidação da recuperação econômica.
Bolivar Lamounier, sociólogo e sócio da consultoria Augurium, diz que pode ser diferente: “Nós temos hoje um Brasil enraivecido em grau nunca visto em nossa história”.
Ele prevê que o número de votos nulos e abstenções pode chegar a 50% em 2018, ainda que seja esperada uma amenização da tensão na sociedade até a eleição.
“A credibilidade do discurso law and order [lei e ordem] não é tao óbvia quanto parece. A sociedade precisa acreditar que aquele problema tem solução no médio prazo e que aquela pessoa consegue resolver”, diz Bolivar.