Mais de um ano de pandemia. Diante de tantas incertezas em relação ao futuro e do medo constante, os problemas relacionados à saúde mental têm causado quase uma pandemia paralela. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país que apresenta maior prevalência de depressão na América Latina. Mas o mundo inteiro está em estado de alerta. “Agora está claro que as necessidades de saúde mental devem ser tratadas como um elemento central de nossa resposta e recuperação da pandemia de Covid-19”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
A psicanalista e psicóloga Renata Bento, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, afirma que medos, ansiedade e incertezas fazem parte da vida, mas não de forma tão intensa como a que estamos vivendo agora.
“A saúde mental nunca foi tão discutida como atualmente. Finalmente temos esperança com a chegada da vacina, mas não existe vacina para saúde mental. Qualquer um de nós pode adoecer psiquicamente. A importância da saúde mental tem sido cada vez mais discutida. A busca por tratamento psicológico tem aumentado exponencialmente e ajudado muitas pessoas a manterem um estado emocional mais equilibrado para não serem totalmente contaminadas pelo ‘vírus’ do desequilíbrio emocional”, explica Renata.
Foi na véspera do Natal que a relações-públicas Monica Bezerra se viu em um lugar onde não imaginaria que sua mente pusesse levá-la: a emergência de um hospital. Ela lembra que começou a sentir o braço esquerdo dormente, perdeu a cor, teve taquicardia, suou frio e teve tremores. Tinha certeza de que estava enfartando, mas o diagnóstico foi crise de pânico: “Fiz todos os exames possíveis e nada foi detectado. Meu médico foi taxativo e disse que eu deveria procurar ajuda de um psiquiatra porque precisava ser medicada. Eu tinha o maior preconceito com remédios. Mas vi que estava passando por um desequilíbrio químico e que essa medida era necessária”, conta Monica, que também tem recorrido a caminhadas e meditação em busca do equilíbrio mental.
Para atender a essa alta demanda, terapeutas, psicólogos e médicos têm se reunido em grupos para realizar atendimentos on-line gratuitos. Uma das iniciativas é a Rodas de Escutas Compassivas, que promove a formação de grupos gratuitos e abertos por meio da conta @rodasescutacompassiva no Instagram. Lá, são disponibilizados links para salas virtuais.
Atendimento remoto não era exatamente uma novidade na vida da psicóloga Fabiane de Faria. Natural de Cuiabá e radicada no Rio há 17 anos, desde 2016 ela oferecia sessões virtuais quando tinha que viajar à terra natal. Mas foi na pandemia que a coisa engrenou mesmo: ela criou a plataforma de consultas on-line Aterapia (aterapia.com.br), que conta hoje com 60 psicólogos de todo o Brasil e, em média, 140 novos pacientes semanais.
“A pandemia trouxe incerteza, instabilidade e insegurança e demandou isolamento social. Tudo isso acabou por ativar em algumas pessoas gatilhos de sintomas que já existiam nelas e podiam estar adormecidos, como ansiedade e depressão”, avalia Fabiane, moradora do Leblon.
A plataforma funciona com um sistema de match: os interessados se inscrevem no site e preenchem um formulário com informações como horário de preferência, abordagem terapêutica que prioriza (psicanálise, terapia cognitiva comportamental, terapia junguiana) e quanto está disposto a pagar por sessão: R$ 60, R$ 90 ou R$ 150 (o valor da consulta varia de acordo com o tempo de experiência do profissional). A partir das respostas, o portal oferece os 15 psicólogos que mais se encaixam no perfil que eles buscam.
“Antes de agendar com o profissional, é possível conversar com ele gratuitamente por até 15 minutos por telefone, para tirar dúvidas e ver se você se sente confortável”, explica Fabiane.
Psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, Flávia Strauch participa do projeto gratuito Estamos Ouvindo, que ajuda pessoas na pandemia: “Se a Covid está deixando pessoas sem comorbidade assustadas, a situação para quem já tem ameaça de morte presente é muito mais sensível, mas cada um reagirá em função de como encara a própria vida. Vai depender da constituição psíquica. Buscar apoio é uma forma de lidar com o que tem de vida. Não é fingir que nada está acontecendo, mas lidar com a realidade dizendo: ‘Você tem muito o que fazer por você’”, diz. As informações são do jornal O Globo.