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Dados do Ministério da Educação revelam uma surpresa sobre o que está ocorrendo no ensino médio

Taxa de abandono na etapa segue menor do que era antes da pandemia. (Foto: Divulgação/Seduc)

A divulgação dos dados do Censo Escolar 2023 na última semana trouxe informações preciosas para aqueles preocupados com o que vai acontecer com a geração de estudantes que carrega as cicatrizes do longo período de ensino remoto na pandemia da covid.

Esses dados eram muito aguardados porque 2023 foi o ano em que todas as redes públicas voltaram a realizar rematrículas presenciais no lugar de rematricular seus alunos automaticamente – como vinha acontecendo na maior parte delas desde o fim de 2020, na esteira dos desafios impostos pela pandemia.

Os dados das matrículas são importantes não só pelas hipóteses que confirmaram, mas também pelas novidades que trouxeram. Para os alunos dos anos iniciais do fundamental (1º ao 5º ano), o que se viu foi uma queda de matrículas durante a pandemia mais acentuada que a tendência prévia de redução causada pela mudança de perfil etária da população brasileira.

Na nossa interpretação, a quebra de tendência nessa etapa resultou da decisão de um número significativo de famílias de atrasar a entrada das crianças na etapa durante o ensino remoto. A quebra de tendência é revertida já em 2022, mas não deixa de ser preocupante: a defasagem idade-série é o maior previsor de abandono escolar, de modo que essas cicatrizes seguirão constituindo um risco ao longo de toda a trajetória escolar desses alunos.

Já no ensino médio (1ª a 3ª série), ainda outro padrão revelador: se, assim como nos anos finais do fundamental, as matrículas também apresentaram enorme quebra de tendência em 2020 e 2021, tal quebra não foi parcialmente revertida em 2022 e sofreu apenas ligeira correção em 2023 – quando a taxa de abandono seguiu surpreendentemente menor que em um ano típico antes da pandemia.

Neste caso, nossa análise traz mais perguntas do que respostas. Será que mais alunos permaneceram em função de uma escola capaz de produzir mais engajamento, com expansão do ensino em tempo integral e da educação profissional e técnica – ainda uma fração pequena das matrículas, mas em rápida aceleração pós-pandemia?

Ou será que a redução drástica da repetência, minimizada nos anos anteriores diante do contexto pandêmico, foi na verdade um alento para uma fração significativa dos alunos que, de outra forma, chegariam com defasagem de idade em relação à etapa – e, assim, permaneceram na escola?

Ainda, se o aumento da permanência no ensino médio parece ótima notícia, será que os jovens estão mesmo aprendendo – sobretudo diante das enormes perdas acumuladas durante o ensino remoto?

Responder isso segue urgente, por dois principais motivos. Primeiro, para que tenhamos chance de endereçar os desafios que põem em risco as oportunidades dessa geração de acessar o direito à educação em iguais condições que as demais.

Segundo, para que possamos, quem sabe, identificar oportunidades de melhor garantir esse direito para todas as gerações – como, por exemplo, a revisão do regime de progressão dos alunos, com vistas a minimizar trajetórias irregulares e seus efeitos perversos sobre o abandono escolar, sobretudo dos mais vulneráveis.

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