Quarta-feira, 16 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 14 de abril de 2025
A inflação chegou ao bolso do consumidor, o que já é suficiente para explicar
Foto: Marcello Casal Jr./Agência BrasilUm levantamento do Datafolha apontou a economia como o principal problema do País, num empate com a saúde. A preocupação econômica ultrapassou, na avaliação dos entrevistados, questões críticas como violência e corrupção, por exemplo.
É prematuro deduzir que se trata de tendência, pode ser apenas o retrato de um momento captado pela pesquisa, feita de forma presencial com 3.054 pessoas em 172 municípios nos três primeiros dias de abril.
Mas o simples fato de o tema ter sido citado de forma espontânea por 22% das pessoas ouvidas dá a dimensão do nível de apreensão com o atual cenário econômico.
Em setembro de 2023, ao responder à mesma pergunta sobre qual seria o principal problema do País considerando as áreas que são de responsabilidade do governo federal, apenas 10% responderam com algo ligado à economia.
Saúde também teve 22% das respostas na pesquisa deste mês de abril, enquanto a violência – que aparece de forma recorrente em levantamentos do tipo, em razão da percepção generalizada da fragilidade na segurança pública – foi apenas o terceiro problema mais lembrado, com 11%. Em setembro de 2023, a pesquisa apontou violência e saúde como as duas piores mazelas nacionais, cada uma delas mencionada por 17% dos entrevistados.
A insatisfação com a economia ocorre a despeito de importantes indicadores estarem positivos, como a taxa de desemprego historicamente baixa e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima do que se esperava, com expansão de 3,4% em 2024 em relação ao ano anterior. No entanto, há o incontornável fator inflação.
No primeiro bimestre de 2025, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial de inflação, atingiu 1,47%, quase metade da meta estipulada para o ano inteiro; o custo da cesta básica em 2024 subiu 14,22%, de acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), quase o triplo da inflação anual (4,83%), e continua subindo: de acordo com acompanhamento do Dieese, em janeiro, em São Paulo – capital com a cesta básica mais cara do País – já valia R$ 851,82, ou 60% do salário mínimo de R$ 1.518,00.
A inflação chegou ao bolso do consumidor, o que já é suficiente para explicar a predominância alcançada pela economia no rol de preocupações do brasileiro.
Sem esquecer que, para tentar frear o ímpeto da alta generalizada de preços, a taxa básica de juros da economia (Selic) foi elevada a 14,25%, um patamar que não era visto desde outubro de 2016. Naquela época, em dez reuniões consecutivas o Copom optou por esse patamar, a última delas em agosto, mês em que Dilma Rousseff teve seu mandato presidencial cassado.
Nos oito anos e meio que se seguiram, o brasileiro não conviveu com uma taxa básica tão elevada e que, ao que tudo indica, deve subir ainda mais ao longo de 2025, já que a inflação não dá trégua.
E o juro básico, como se sabe, não é juro real. Aquele que mais dói no bolso do brasileiro médio, o do cartão de crédito, bateu 438,4% ao ano em setembro de 2024. Levantamento do Banco Central de março mostra como a taxa do rotativo varia de acordo com a instituição, chegando a ultrapassar 900% ao ano em quatro delas.
Inflação e juros altos são uma mistura explosiva, capaz de desestabilizar qualquer governo. E esta gestão, em especial, insiste em não reconhecer que a política lulopetista vem forjando esse quadro, origem da queda vertiginosa da popularidade de Lula.
Recortes da pesquisa Genial/Quaest mostram que 67% dos eleitores brasileiros se dizem frustrados com o terceiro governo Lula da Silva, 36% deles muito e 31% um pouco. No Nordeste, outrora reduto inconteste do petista, mais da metade (55%) se mostrou decepcionada.
Mas só se decepcionou quem tinha alguma expectativa positiva. E quem tinha alguma expectativa de que o novo governo de Lula da Silva pudesse ser responsável e prudente para manter o poder de compra da moeda, das duas, uma: ou era ingênuo ou era mal informado.