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De Igreja, carnaval e monstros

(Foto: Reprodução)

Carnaval é coisa séria. Tão séria que a Igreja o controla. É a Santa Sé que manda na festa. Começa pelo calendário e chega ao nome. Ela diz: “O momo só pode reinar 40 dias antes da quaresma. Vai do Dia de Reis (6 de janeiro) à quarta-feira de cinzas. Depois disso, o mundo se veste de roxo”.

Cadê autonomia?

A quarta-feira de cinzas depende da Páscoa. A ressurreição de Cristo se comemora no primeiro domingo depois do primeiro domingo de Lua cheia de março. Em que dia cai? Varia. Depende dos caprichos do satélite da Terra.

O batismo

A Igreja foi além do calendário. Interferiu no nome. Carnaval vem de carne. Significa dias em que a carne é liberada. Opõe-se à quaresma, período de abstinência. Como festa pagã, escreve-se com inicial minúscula.

Antes de chegar a esta alegre Pindorama, a palavrinha bateu pernas. Desembarcou aqui por via do italiano carnevale. Mas seu berço é o latim. Na língua dos Césares, significava “adeus à carne”.

Filho

O carnaval deitou e rolou nesta terra mestiça. Deu filhotes. Dele nasceu carnavalesco. O sufixo –esco é velho conhecido nosso. Aparece em adjetivos. Mas não qualquer adjetivo. Só nos derivados de substantivos. Quer dizer semelhante, parecido. Carnavalesco é semelhante a carnaval. Dantesco, a Dante. Burlesco, a burla (zombaria). Momesco, a momo.

Neto

A família cresceu. Veio o neto — o advérbio carnavalescamente. Reparou? Ele é filho do adjetivo (carnavalesco). Cuidado ao usá-lo. Dizer que uma pessoa se comporta carnavalescamente às vezes ofende. O recado é este: você age como se estivesse no carnaval. Parece palhaço.

Monstrinhos

A coisa não parou aí. Veio o verbo. Aí, a porca torceu o rabo. Carnaval é alegria, descontração. Mas tem limites. Tem regras. Sem saber disso, apareceu o verbo carnavalizar. E deu filhotes — carnavalização, carnavalizado, carnavalizador. E por aí vai. Valha-nos, Deus! São monstrinhos que chegaram como quem não quer nada, avançaram e hoje figuram no dicionário como gente da casa.

Mistérios do samba

Abram alas, que o samba quer passar. E passa. Na terrinha tropical, começou com Donga. “Pelo telefone” abriu o caminho. Cartola, Pixinguinha, Mansueto de Menezes, Noel Rosa, Clementina de Jesus o seguiram. Hoje existe uma certeza: “Quem não gosta de samba / Bom sujeito não é / É ruim da cabeça / ou doente do pé”. E uma dúvida. Onde a palavra nasceu? Há uma unanimidade — veio ao mundo na África. E um talvez — provavelmente do quimbundo, língua da família banta, falada em Angola.

Leitor Pergunta

Qual o plural de samba-enredo? (Cleonice Silva, Niterói)

Samba-enredo joga no time de samba-canção, samba-choro, samba-exaltação, samba-choro & cia. Os membros da equipe têm um denominador comum — aceitam dois plurais: sambas-enredos, sambas-enredo, sambas-canções, sambas-canção, sambas-choros, sambas-choro, sambas-exaltações, sambas-exaltação.

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