Domingo, 29 de dezembro de 2024
Por Tito Guarniere | 28 de janeiro de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Ainda há muito para ser estudado nos eventos dramáticos no Brasil, desde outubro. O mais surpreendente e duradouro foram as concentrações bolsonaristas ao redor dos quartéis, pedindo a intervenção militar. E em 8 de janeiro o impensável ataque das hordas golpistas aos prédios dos três poderes em Brasília. Ficamos a um triz de uma convulsão social, uma ruptura violenta da ordem constitucional.
Alguma coisa, é verdade, tinha de se esperar e haveria de acontecer. Mas nessas horas ninguém prevê a sucessão de acontecimentos, nem na ordem em que ele se dão, nem na intensidade, nem nos desdobramentos próximos e remotos. Afinal, a trama golpista, as provocações, os ataques às instituições como o TSE e o STF e a imprensa, tudo se repetiu sem tréguas desde a campanha de 2018 e depois a cada dia do governo Bolsonaro..
Quando os bolsonaristas começaram a armar as barracas ao redor dos quartéis, era de se imaginar que se tratava de um fenômeno passageiro. Mas os dias, as semanas passaram e os acampamentos se mantiveram em plena atividade, quando não em crescimento e expansão.
Os manifestantes-golpistas enfrentaram todas as adversidades, a precariedade da vida em barracas, inclusive as torrenciais chuvas de verão, e lá se ficaram em impressionante pegada, vibrantes de um fé cívica meio aloprada, vivendo intensamente a expectativa de que nas “próximas 72 horas” o resultado das urnas seria anulado e Bolsonaro ou quem sabe o general Augusto Heleno ocuparia a cadeira presidencial.
Os ativistas mostraram garra e perseverança, em meio ao emaranhado confuso das suas ideias, ao mesmo tempo em que apresentavam nítidos sinais de uma desvario coletivo, de uma pane de compreensão do senso comum, de um desligamento da realidade – pareciam ter atravessado as fronteiras do universo lógico e comum para adentrarem a um universo paralelo.
O contingente estava convencido que a vitória de Lula era a vitória do comunismo, e que cada um (a) era um(a) combatente da liberdade, que era preciso resistir a todo custo ao avanço vermelho. Não duvido de que, naquele meio, havia gente disposta a morrer pela causa, sem jamais ter se perguntado se de fato tal causa era real, fazia algum sentido. Movidos pelos impulsos da hora e apelos insanos de um patriotismo de fancaria, perderam completamente a capacidade de raciocinar. Estavam enfeitiçados de ardor juvenil no projeto desatinado de “salvar o Brasil”.
E foi assim que em janeiro de 2023 as “tropas” se lançaram ao assalto final em Brasília, quebrando tudo que encontraram pela frente, devastando a Praça dos Três poderes, invadindo cada prédio , estilhaçando cada vidro, a rebeldia sem causa, o caos pelo caos, como nunca se viu na República.
Mais de mil deles estão presos. De um ponto de vista estritamente legal não têm nada que reclamar : foram presos em flagrante delito. Descobriram que a jornada nada tinha de gloriosa: o que fizeram foi coisa de marginais, desordeiros, o que – com toda a certeza – a maioria até então não era.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.