Segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 19 de janeiro de 2025
A presidência de Joe Biden nos Estados Unidos chega ao fim nessa segunda-feira (20) de maneira melancólica. Coma popularidade em baixa após desistir de disputara reeleição e a insatisfação da população com a forma com que lidou com os preços altos do pós-pandemia, o democrata deixa a Casa Branca mais lembrado pelos erros do que pelos acertos. Biden também fez uma aposta alta ao dar apoio militar a Ucrânia e Israel em guerras.
O republicano Donald Trump herdará um país dividido, coma economia aquecida, mas com o poder de compra da população ainda afetado pela alta inflação dos últimos anos. Na política externa, as guerras em Gaza e na Ucrânia representam um desafio.
Biden deixa a Casa Branca aprovado por apenas 37% dos americanos. Quando chegou ao poder, tinha a aprovação de 53,4%, segundo a média de pesquisas do site Five Thirty Eight. “Biden começa o mandato dele com uma agenda doméstica bastante ambiciosa, quase tentando repetir o governo Roosevelt, mas essa ambição toda foi prejudicada pela questão da inflação. O aumento do custo de vida marcou o governo Biden e foi responsável pela derrota democrata”, avalia o cientista político Carlos Gustavo Poggio, professor do Berea College, nos Estados Unidos.
“Para julgar o legado do Biden é preciso entender sua concepção de mundo: ele é da época de uma visão ‘Plano Marshall’, dos anos dourados dos Estados Unidos, com os aliados crescendo junto. Ele tentou impor isso ao governo dele, e é o último elo dessa visão de integração do mundo democrático à ideia americana”, diz Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais da ESPM.
“No cenário doméstico, Biden fala para uma classe média na qual ele viveu e que viu crescer. Essa classe média está diminuindo. Nos anos 90, ela compunha 80% da população, e hoje é 50%. Ele ainda vê uma possibilidade de o sonho americano crescer dentro de uma lógica distributivista”, acrescenta Trevisan, referindo-se ao plano de bem-estar social adotado por Roosevelt a Lyndon Johnson.
Gestão da pandemia
Biden disputou a presidência prometendo ser um líder de transição, que tiraria o país da sensação de crises constantes que marcaram o mandato republicano. Muitos americanos brincavam à época que seu maior ativo eleitoral era “não ser Donald Trump”.
Seu primeiro desafio foi controlar a pandemia. Coube a Biden liderar o esforço para que ela chegasse aos braços dos americanos. Deu certo: 250 milhões de pessoas foram vacinadas e a doença, que chegou a matar mais de 3 mil pessoas por dia no ápice da crise, foi controlada.
O segundo passo foi recuperar a economia da recessão provocada pela pandemia. Biden conseguiu, no começo do mandato, quando ainda tinha maioria nas duas Casas do Congresso, aprovar um pacote de estímulo de US$ 1,9 trilhão. A economia se recuperou com a injeção de recursos e cresceu 5,8% em 2021, 1,9% em 2022 e 2,3% em 2023. A taxa de desemprego caiu de 8% em 2020 para 5,3% em 2021, e nos dois anos seguintes se estabilizou em torno de 3,6%.
Como parte do plano de recuperação econômica, Biden também investiu numa agenda legislativa para reconstruir a infraestrutura produtiva americana, sobretudo pontes, estradas, aeroportos e portos. O pacote de US$ 1 trilhão foi aprovado pelo Congresso em 2021. A maioria das obras desse projeto são de execução lenta e devem ser entregues apenas nos próximos anos.
Ele também conseguiu aprovar uma lei para reduzir o custo de remédios para aposentados, sobretudo a insulina, que nos EUA era cobrada a preços altos. Hoje, ela está limitada a US$ 35.
Na economia, no entanto, o calcanhar de Aquiles de Biden foi a inflação. Os pacotes de estímulo, aliados aos gargalos de produção que afetaram o mundo no pós-pandemia, fizeram os EUA ter a pior inflação desde os anos 70, justamente quando os democratas foram retirados do poder por Reagan. Em 2021, os preços subiram 4,7%, e em 2022, 8%.
Agenda internacional
O democrata colecionou equívocos na política externa. O primeiro foi a conturbada retirada do Afeganistão, realizada de forma caótica. O Taleban invadiu a capital, Cabul, e assumiu o controle do país.
Meses depois, o líder russo, Vladimir Putin, começou a ameaçar a Ucrânia e reunir tropas na fronteira. Em fevereiro de 2022, Kiev foi atacada.
A fama de belicista de Biden piorou em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas realizou o pior atentado da história de Israel. O apoio à invasão de Gaza que se seguiu ao ataque provocou inúmeros protestos nos EUA, sobretudo de jovens ligados à esquerda democrata, críticos da guerra.
Nas últimas semanas, ele perdeu ainda mais apoio por perdoar preventivamente o filho Hunter de qualquer crime, temendo perseguições por parte do sucessor.