Sábado, 18 de janeiro de 2025
Por Tito Guarniere | 18 de janeiro de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Está em curso no Brasil e no mundo um debate cerrado sobre liberdade de expressão. Tem a ver com o impacto das redes sociais na vida da humanidade – jamais em tempo algum os seres humanos se comunicam entre si com tamanha intensidade.
O debate acalorado está centrado no papel ora exercido através das grandes plataformas – Facebook, Instagram, Whatsapp, X. Até bem pouco tempo, o assunto dizia respeito apenas aos meios tradicionais de comunicação ,jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão.
Nesses meios estavam bem assentados certos conceitos universais: as mídias massivas podiam publicar o que lhes fosse conveniente, porém com a ressalva que tinha responsabilidades objetivas, quando erravam, ofendiam a honra das pessoas, ou quando a publicação falsa pudesse gerar efeitos civis e penais.
Era consensual o entendimento de que a censura estatal, a perseguição de governos a veículos da imprensa e de jornalistas, eram limites inegociáveis da liberdade de expressão.
A imprensa , ela mesma, cuidava de não transpor aquelas linhas, e aceitava as regras de moderação, de não publicar fatos fantasiosos ou falsos, para manter a credibilidade junto ao seu público e para evitar ações judiciais e sanções de ordem penal e civil.
Mas as conceituações sobre a matéria mudaram bruscamente e subiram a outro patamar com as redes sociais. Nelas se publica tudo o que dá veneta de milhões de usuários ao redor do mundo. As grandes plataformas defendem uma liberdade amplíssima, e que toda publicação é livre. E que toda espécie de ordenação, imposição estatal de limites, toda regra de contenção e moderação, se constituirá em atentado ao princípio.
Mas, e se o fato for falso, se houver incitação ao ódio racial e à violência? Mesmo assim, os usuários têm o direito de se manifestar livremente – direito, portanto, sagrado, inviolável, não sujeito a nenhum limite. Lei da selva, dirá alguém. E estará certo.
A licenciosidade caótica é defendida com unhas e dentes pelos biliardários proprietários das big techs, gente como Mark Zuckerberg e Elon Musk. Eles se arrogam a condição de seres humanos diferenciados, acima dos estados nacionais, de fazerem grana grossa com suas empresas, sem que lhes oponham limites e regramentos.
Na semana retrasada, Zuckerberg, da Meta(Facebook, Instagram e Whatsapp) anunciou a decisão de acabar com o programa de checagem de fatos que obedecia, perfilhando alegações pífias, mal disfarçando as razões verdadeiras – fazer mais dinheiro, e multiplicando a fortuna de bilhões de dólares. Quando lhe foi pertinente, costumava de se gabar que combatia os excessos exatamente através desse programa, espalhado em todos os continentes e em mais de uma centena de países.
Zuckerberg se aliou a Musk que, no seu X, não adota o programa de verificação, uma espécie de barreira contra o uso caótico, o clima de vale tudo, o mau uso das redes.
É em meio ao caos, à babel das fake news, à ausência de regras, que tilintam as caixas registradoras, que flamam as tribos do ódio e da intolerância, e onde se chocam os ovos da serpente totalitária.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.