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Debate sobre aborto nos Estados Unidos mescla religião, direitos e votos: americanos vão às urnas de olho em como Kamala e Trump se posicionam sobre o tema

O ex-presidente Donald Trump e a atual vice-presidente Kamala Harris disputam a corrida pelo comando da Casa Branca. (Foto: Reprodução)

Em junho de 2022, seis dos noves juízes da Suprema Corte dos Estados Unidos derrubaram um entendimento que vigorava desde 1973 e que tornava o aborto uma prática legalizada em todo o território americano. A nova regra deu aos Estados mais poder e autonomia para criarem, cada um deles, suas próprias regras. Essa decisão dividiu a opinião pública americana e deve produzir efeitos na eleição presidencial de 5 de novembro.

Na época, a medida foi aplaudida por setores conservadores e religiosos e rejeitada com protestos de rua por defensores de direitos civis e por muitas mulheres.

Na campanha eleitoral deste ano, a candidata democrata à Presidência dos EUA, a atual vice-presidente, Kamala Harris, faz deste um dos seus principais temas. Promete apoiar que o Congresso legisle para reverter a decisão dos magistrados.

O candidato pelo Partido Republicano, cuja base inclui setores conservadores da sociedade, o ex-presidente Donald Trump, tem mais dificuldade com o tema. Mudou algumas vezes de opinião sobre se apoia regras mais restritivas ou mais flexíveis.

Na guerra de posições entre democratas e republicanos se misturam argumentos sobre liberdades civis, defesa da vida intrauterina, moral cristã, dilemas éticos e desinformação. Além de políticos, a disputa é travada intensamente também por ONGs e igrejas.

“Essa é sempre uma das questões prioritárias nas eleições, mas nunca nesse nível. E, claro, isso se deve à revisão da decisão Roe vs Wade que acabou com a proteção federal do acesso ao aborto”, diz Amy Weintraub, diretora do programa de Direitos Reprodutivos na ONG Progress Florida.

Ela se refere ao nome do caso que moldou o regramento sobre aborto por 50 anos e que foi derrubado pela corte há dois anos.

“Quando isso aconteceu, permitiu que todos esses legisladores estaduais hostis ao direito ao aborto começassem a proibir o procedimento e isso começou a chamar a atenção do eleitorado. Por isso que estamos vendo esse enorme interesse, não apenas dos políticos em tratarem do assunto, mas também dos eleitores, que querem ver mudanças e querem ver a liberdade reprodutiva restaurada”, diz ela.

Pesquisa do jornal “The New York Times” em parceria com o Siena College feita entre 29 de setembro e 6 de outubro, apontou que a economia é o assunto que os americanos consideram como o mais importante na hora do voto. Regras sobre o aborto aparecem como o segundo mais importante.

Mulheres e eleitores democratas são particularmente mais sensíveis à questão.

Na pesquisa do jornal “Wall Street Journal” feita entre 28 de setembro e 8 de outubro, limitada aos sete Estados onde a disputa é mais apertada, economia e imigração aparecem como os temas que mais pesam na hora do voto. Aborto aparece em terceiro.

Muitas mulheres e muitas famílias de Estados que aprovaram regras mais restritivas passaram a viver uma nova dinâmica. Por exemplo, as viagens em busca de médicos autorizados a realizarem abortos em outros Estados explodiram. Em 2019, 71,3 mil mulheres deixaram seus Estados para realizar um aborto. Em 2023, após a revisão das regras federais, 171,3 mil fizeram esse tipo de viagem. As informações são do jornal Valor Econômico.

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