A arte pode por vezes se confundir e até interferir na realidade. Foi o caso da premiada peça escrita pela australiana Suzie Miller, ex-advogada, que ganhou grande repercussão na Inglaterra, onde estreou em 2022, acendendo um debate pela mudança de leis britânicas e chegando a ser obrigatória em faculdades de Direito.
Com temporadas esgotadas em Londres e na Broadway, “Prima Facie”— termo jurídico em latim que pode ser traduzido como “à primeira vista”, — virou livro, caminha para o cinema e chega ao Brasil como o primeiro monólogo de Débora Falabella.
“O frio na barriga está congelando, mas é uma realização muito grande esse trabalho, estou muito orgulhosa. Esse ano vai ser o ano de teatro, mas, claro, estou sempre aberta a convites (da televisão)”, declara Débora, que fica em cartaz até o fim de junho com a peça e, depois de tirar férias em família, estreia no final de julho outro espetáculo, “Neste mundo louco, nesta noite brilhante”, com sua companhia.
Em “Prima Facie”, a atriz interpreta Tessa, uma advogada que aceita defender todo tipo de crime, inclusive de abusos sexuais, sem pré-julgar. Ao mesmo tempo em que experimenta o sucesso, ela precisa encarar uma crise que a obriga a rever uma série de valores e princípios, além de refletir sobre o sistema judicial, a condição feminina e as relações conturbadas entre diversas esferas de poder. Isso ocorre quando ela sofre uma violência e se torna testemunha e vítima. Tessa passa a rever valores e a questionar o sistema judicial.
Débora não esconde a admiração pela personagem — vivida por Jodie Comer na montagem original, papel que lhe rendeu um prêmio Tony—, que vem de família pobre e carrega ideais, grande paixão e entrega pela profissão:
“Ela é bem sucedida, ganha muitos casos e é uma mulher forte, corajosa”, elogia a atriz, para quem o interessante no texto é a discussão de como a justiça é favorável aos homens, de leis e sistema jurídico criados por eles. “Temos mulheres maravilhosas, que conseguiram fazer leis que nos favorecem, e hoje temos muito mais amparo. Mas ainda há um longo caminho a percorrer”, reflete.
Devido ao êxito nos palcos, a autora Suzie Miler foi convidada para debater sobre o tema na última assembleia da ONU sobre o abuso de mulheres. Atualmente, “Prima Facie” conta com montagens em cartaz nos palcos de países como Alemanha, Austrália, Estados Unidos, Nova Zelândia, Turquia, entre muitos outros.