Domingo, 26 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de outubro de 2020
Defendendo a quarentena parcial imposta na Alemanha, a chanceler Angela Merkel afirmou nesta quinta-feira (29) que populistas de direita que alegam que o novo coronavírus é inofensivo são perigosos e irresponsáveis.
“Mentiras e desinformação, teorias da conspiração e ódio prejudicam não apenas o debate democrático, mas também a luta contra o vírus”, disse durante um discurso no Parlamento, quando foi questionada por deputados de extrema direita do partido Alternativa para a Alemanha (AfD).
Faltando menos de um ano para as eleições federais, Merkel, que em 2018 anunciou que não concorreria ao pleito, tenta manter os alemães unidos.
“Estamos em uma situação dramática no início da época de frio. Isso afetará a todos nós, sem exceção”, disse Merkel a deputados, acrescentando que novas restrições para reforçar o distanciamento social são “necessárias e proporcionais”.
Na quarta (28), a chanceler anunciou uma quarentena parcial a partir de 2 de novembro, medida semelhante a outras adotadas por alguns países europeus, como Portugal. Na Alemanha, a medida fechará bares, restaurantes, teatros, academias e piscinas, mas as escolas continuarão abertas.
O governo alemão também permitiu que as lojas permaneçam abertas desde que mantenham um limite de atendimento de uma pessoa a cada 10 m² nos estabelecimentos. Eventos esportivos profissionais só serão permitidos sem espectadores.
As críticas às últimas restrições vêm de setores que serão mais afetados pela quarentena, como o de hotelaria. Os deputados da AfD estão irritados com o que consideram uma restrição histórica à liberdade.
“O bombardeio diário com os números de casos é claramente projetado para assustar as pessoas, porque a maioria não vê a covid-19 nas suas rotinas”, disse o presidente honorário do partido de extrema direita, Alexander Gauland. “Em nome da saúde dos cidadãos, [o governo] optou pelas maiores restrições à liberdade da História desta República.”
Ao anunciar a quarentena parcial, Merkel informou que o número de pacientes em unidades de tratamento intensivo (UTIs) dobrou nos últimos dez dias, afirmando que o sistema de saúde do país consegue suportar a situação atual, mas que chegará ao limite se a pandemia continuar avançando.
Durante a primeira onda da covid-19 a Alemanha foi amplamente elogiada por manter o número de infecções e de mortes menor do que muitos de seus vizinhos europeus. No entanto, como ocorre em grande parte do continente, o país vem registrando um número alto de casos, com o recorde diário de 16.744 contaminações nesta quinta-feira — o total é de 481.013. Nas últimas 24 horas, o novo coronavírus matou 89 pessoas.
“O inverno será difícil. Serão longos e difíceis meses, mas vai acabar”, disse Merkel.
Polícia Federal
Ainda nesta quinta, o ministro do Interior da Alemanha, Hors Seehofer, disse que o governo pretende enviar milhares de policiais federais a todo o país para impor as medidas restritivas.
“Fazer verificações será crucial para garantir o sucesso das novas medidas”, disse Seehofer. “Em coordenação com os estados, a Polícia Federal enviará milhares de policiais.”
Esse controle mais intenso, no entanto, pode ser impopular. Na cidade de Essen, no oeste do país, o governo local foi criticado por tentar recrutar moradores para denunciar outros cidadãos que não estejam cumprindo as restrições. Segundo alguns, o método relembra o passado nazista.
O ministro disse que a Polícia Federal seria usada primeiro nas grandes cidades e nas áreas mais atingidas pela pandemia.
Os agentes também irão intensificar as verificações em aeroportos, estações ferroviárias e perto das fronteiras para garantir que quem entre no país de regiões de alto risco cumpram as regras.
Ainda antes das novas medidas serem anunciadas, a capital Berlim havia recrutado 500 policiais federais para fiscalizar as festas e reuniões ilegais que a corporação local não conseguia controlar.
Sistemas sobrecarregados
Em entrevista coletiva, a chefe da Comissão Européia, Ursula von der Leyen, afirmou que, exceto se autoridades agirem rapidamente, os sistemas de saúde da União Europeia correm o risco de serem sobrecarregado pelo número de casos de coronavírus.
Ela disse que a Comissão disponibilizou 220 milhões de euros para financiar a transferência transfronteiriça de pacientes com covid-19 entre países da União Europeia (UE) para evitar que os sistemas de saúde dos países mais afetados não sejam capazes de lidar com a situação.
Ela também disse que a UE trabalhará para a validação rápida, em nível regional, de testes rápidos de anticorpos.