Desde a tarde dessa segunda-feira (19), a Coordenadoria Regional de Proteção, a Defesa Civil e a Sala de Situação do Estado estão monitoramento dois eventos meteorológicos no Rio Grande do Sul. Após analisarem dados e imagens, as instituições confirmaram a ocorrência de um tornado sobre a região de Júlio de Castilhos.
Segundo os meteorologistas da Sala de Situação, a disponibilidade de calor e umidade foram fatores responsáveis pelo desenvolvimento de tempestades tropicais isoladas no território gaúcho. Essa condição atmosférica favoreceu o desenvolvimento de instabilidades que ocasionaram as intempéries e a formação de um tornado na região de Júlio de Castilhos.
O fenômeno é comum quando temos tais condições de calor e umidade, porém nem sempre podem ser constatados e registrados por meio de imagens.
As precipitações na região da ocorrência do tornado ficaram entre 20 e 35 mm/dia, não sendo reportados danos em decorrência do evento.
A Defesa Civil do Estado gaúcho recomenda para que as pessoas evitem permanecer nas proximidades do local onde está ocorrendo o fenômeno, procurando abrigo em área segura.
Também é importante que a população local busque informações junto à Defesa Civil da sua cidade, conheça os planos de contingência municipais para saber quais os riscos e como agir em caso de desastre no seu município.
Qualquer emergência devem ser reportada pelo telefone 193 ou 190.
Circulações ciclônicas
Segundo a MetSul Meteorologia, os eventos do início da semana apontam para dois centros de baixa pressão (ou vórtice ciclônico), que acabaram por criar uma situação meteorológica inusitada e possivelmente inédita na região.
Para entender o que acontece, a meteorologista Estael Sias explica que uma baixa pressão em níveis médios e altos da atmosfera, com ar frio no seu centro, avançou da Argentina para o Rio Grande do Sul, e nesta terça-feira (20) está sobre o Paraná. Segundo a especialista, ao mesmo tempo que esta baixa pressão em médios e altos níveis da atmosfera atua sobre o continente no Sul do Brasil, uma tempestade tropical (centro de baixa pressão quente de baixos a altos níveis da atmosfera) se formou na costa da região, em mar aberto, distante do litoral, sendo batizada com o nome Akará.
A especialista comenta que são raros os episódios de tempestades tropicais na costa do Brasil. Segundo Estael, houve apenas quatro eventos neste século: em 2004, antes de ser um furacão, Catarina obviamente passou pelo estágio de tempestade tropical; em 2010, embora alguns trabalhos acadêmicos classifiquem como tempestade subtropical, parte da comunidade expert em ciclones dos Estados Unidos entende que Anita foi uma tempestade tropical; e outras duas tempestades tropicais no litoral do Brasil, em 2021 (Iba, na costa da Bahia, e outra sem nome, que atuou em grande distância da costa na altura dos litorais gaúcho e do Uruguai).
“Então, o que temos desde ontem (segunda) é a simultaneidade na nossa região de um fenômeno menos frequente com outro de rara ocorrência e que neste século somente foi visto na costa brasileira em quatro oportunidades antes de 2024, uma situação meteorológica bastante inusitada em escala sinótica”, comenta a especialista.
A MetSul informou que o vórtice ciclônico (VCAN) sobre o Sul do Brasil, embora sem causar consequências mais graves, favoreceu instabilidade com o calor e episódios isolados de chuva forte e temporais.
“Nuvens funis, que no domingo foram vistas com o vórtice no Uruguai e na Argentina, segunda foram vistas em cidades do interior gaúcho. Em Júlio de Castilhos, um funil muito desenvolvido foi registrado, mas não foi possível precisar se a sua circulação alcançou a superfície. No Paraná, houve notícias de tornado sem danos em área rural de Ercilândia. As nuvens carregadas, estimuladas pela baixa pressão em níveis médios, ainda causou temporais com chuva forte”, comentou Estael.
Em Boqueirão do Leão, Vale do Rio Pardo, a chuva intensa provocou estragos. Em Putinga, Vale do Taquari, o aguaceiro alagou a pequena cidade e houve queda de granizo com rajadas de vento. A tendência é que a baixa pressão em níveis médios e altos da atmosfera ainda influencie o tempo nesta quarta-feira (21), segundo a MetSul, especialmente entre o Paraná e São Paulo.