As defesas de Flordelis dos Santos de Souza e de familiares de Anderson do Carmo avaliaram como positivo o primeiro dia de depoimentos pelo julgamento da ex-deputada e de outras quatro pessoas pela morte do pastor, na segunda-feira (7). Os advogados Janira Rocha e Ângelo Máximo apontaram que, durante as oitivas, foi possível colher elementos que vão corroborar as teses para possíveis condenações ou absolvições dos réus, que são além da ex-deputada, a filha biológica Simone dos Santos Rodrigues, os filhos afetivos André Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira da Silva, e a neta Rayane dos Santos Oliveira.
A advogada Janira Rocha declarou que espera conseguir a absolvição da ex-deputada, já que, segundo ela, Simone confessou ter sido a mandante da morte de Anderson. Janira afirmou ainda que o crime não foi motivado por poder e dinheiro, mas pela suposta violência praticada pelo então marido da pastora.
“Nós vamos fazer uma inquisição, vamos mostrar assistentes técnicos que vão dissecar e mostrar para os jurados a questão dos abusos que aconteciam naquela casa e foram o motivo pelo qual a Simone planejou a morte do pastor”, disse a advogada. “Se esse frisson midiático ficar fora da sala do Tribunal e a gente puder fazer o nosso trabalho, a única coisa que pode se esperar aqui desse Júri, é a absolvição da Flordelis e dos seus filhos”, completou.
Em contrapartida o advogado Ângelo Máximo, que é assistente de acusação, reforçou que o depoimento da delegada Bárbara Lomba foi essencial para esclarecer que a violência física e sexual da qual Flordelis e as também rés Simone e Rayane, além de outras filhas e netas, acusam o pastor de ter cometido nunca aconteceu.
“O dia de ontem [segunda] foi um dia muito produtivo para a acusação, que ficou esclarecido, através do depoimento da doutora [delegada] Bárbara Lomba, que essa tese absurda que será apresentada pela defesa de abuso sexual por parte do pastor nunca aconteceu. A doutora Bárbara foi muito clara e precisa, a defesa [de Flordelis], pelo menos no dia de ontem, não conseguiu produzir essa prova”, disse o advogado.
Na segunda, Máximo já havia apontado as alegações como uma “estratégia sorrateira” da defesa para comover a opinião pública e ressaltou que Flordelis e outras filhas e netas que acusam Anderson tiveram oportunidades durante o processo de relatarem a violência sofrida, mas não o fizeram.
A advogada de Flordelis, no entanto, justificou que a ex-parlamentar e as mulheres que acusam o pastor não se pronunciaram antes sobre a violência que vinham sofrendo porque aqueles “que passam anos das suas vidas sendo abusadas, não são pessoas com capacidade de chegar e contar dos seus abusos”.
Já foram ouvidos durante o primeiro dia de julgamento a delegada Bárbara Lomba, que iniciou as investigações quando era titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, o delegado Allan Duarte, responsável pela conclusão do inquérito e Regiane Ramos Cupti Rabello, chefe de Lucas dos Santos de Souza, um dos filhos adotivos da pastora, já condenado por participação no crime.
Acusações
Flordelis é acusada de ser a mandante do crime e poderá responder por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.
Já a filha biológica, Simone dos Santos Rodrigues, e os filhos adotivos Marzy Teixeira da Silva e André Luiz de Oliveira poderão responder por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada. Enquanto, a neta Rayane dos Santos Oliveira, por homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada.
Caso
Anderson do Carmo foi atingido por mais de 30 tiros na madrugada de 16 de junho de 2019, na garagem da casa onde morava com Flordelis e os filhos em Pendotiba, Niterói, na Região Metropolitana do Rio.
Logo depois do crime, a ex-deputada relatou que se tratava de uma tentativa de assalto. No velório, Flávio dos Santos, filho biológico de Flordelis, foi preso apontado como autor dos disparos que mataram o pastor. Enquanto, Lucas dos Santos de Souza, filho adotivo da pastora, foi preso horas depois do irmão, acusado de ter conseguido a arma do crime. A pistola foi encontrada na casa da família.
As investigações demonstraram que, antes mesmo da execução, o grupo já vinha tentando matar a vítima por envenenamento. A motivação do crime, segundo as autoridades, foi o controle que a vítima fazia das finanças e a administração rigorosa da casa, o que desagradava ex-parlamentar e outros integrantes da família.