Quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de janeiro de 2025
A defesa de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) nessa quarta-feira (29) a abertura de uma investigação sobre o vazamento da íntegra do primeiro depoimento prestado pelo tenente-coronel em sua colaboração premiada com a Polícia Federal.
O depoimento, que embasou a primeira parte da delação do militar, foi obtido pelo colunista Elio Gaspari e publicado na íntegra no sábado (25).
O documento mostra que Cid detalhou grupos que faziam pressão para convencer o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a dar um golpe de Estado —incluindo os nomes de Michelle e Eduardo Bolsonaro entre os mais radicais.
“Tal vazamento ocorreu de forma criminosa, colocando em risco não só o colaborador e sua família, mas também a tranquilidade do andamento processual numa causa tão sensível e de interesse de todo o país”, diz o advogado Cezar Bitencourt na petição enviada ao ministro Alexandre de Moraes.
“Assim, Excelência, medidas devem ser tomadas para se averiguar quem providenciou a quebra do sigilo do mencionado depoimento”, completa.
A defesa diz que o militar “vem cumprindo fielmente os termos do referido acordo” e lembrou que Cid chegou a prestar depoimento à PF sobre um “‘possível’ vazamento, sob pena de rescisão”.
Bitencourt escreveu a Moraes que o próprio ministro assegurou à defesa de Cid o sigilo da delação premiada. Os advogados do tenente-coronel não tiveram acesso às cópias dos depoimentos, por decisão do ministro do Supremo.
“A importância do sigilo da colaboração premiada antes do recebimento da denúncia se faz não só por imposição legal, mas também, evidentemente, para preservar a investigação em curso e o [colaborador], dando-lhe a liberdade necessária para continuar contribuindo para o esclarecimento dos fatos a que se propôs”, diz o advogado.
A delação premiada de Cid com a PF foi homologada por Moraes em setembro de 2023. O primeiro depoimento impulsionou o inquérito do golpe, mas foi complementado nos meses seguintes, avançando inclusive sobre a participação do general Braga Netto.
Ao todo, Cid prestou ao menos dez depoimentos à PF no âmbito da colaboração. Ele deu detalhes aos investigadores sobre as discussões de Bolsonaro e aliados por um golpe de Estado no fim de 2022, a venda de joias de Estado para benefício do ex-presidente e a falsificação de carteiras de vacinação.
Só o primeiro depoimento foi tornado público, no fim de semana, em coluna do jornalista Elio Gaspari. Ele foi dado em agosto de 2023.
Cid disse na ocasião que, após as eleições, três grupos se formaram no entorno de Bolsonaro.
O primeiro queria que ele mandasse os manifestantes que protestavam contra o resultado eleitoral para suas casas e se tornasse o grande líder da oposição. Nesse grupo estavam o senador Flávio Bolsonaro, o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, o advogado-geral da União, Bruno Bianco, e o brigadeiro Baptista Júnior, comandante da Força Aérea.
“Que tinha um grupo bem conservador, de linha bem política; que aconselhavam o Presidente a mandar o povo para casa, e colocar-se como um grande líder da oposição; que diziam que o povo só queria um direcionamento”, diz o termo do depoimento.
O segundo grupo, ainda mais moderado, dizia que “nada poderia ser feito diante do resultado das eleições”. Uma virada de mesa “representaria um regime militar por mais 20, 30 anos”. Temiam que radicais levassem Bolsonaro a “assinar uma ‘doideira'”. Nele, segundo Cid, estavam os generais Freire Gomes (comandante do Exército), Paulo Sérgio Nogueira (ministro da Defesa) e Júlio César de Arruda.
Outros moderados queriam que Bolsonaro deixasse o país. Entre eles estava o empresário do agronegócio Paulo Junqueira, “que financiou a viagem do presidente para os EUA”.
O terceiro grupo era formado pelos considerados radicais e tinha dois braços. Um queria encontrar provas de fraude nas eleições. Nele estariam o major da reserva Angelo Denicoli e o senador Luis Carlos Heinze. O parlamentar chegou a propor que os militares sequestrassem uma urna eletrônica “para a realização de testes de integridade”.
“Que o segundo grupo de ‘radicais’ era a favor de um braço armado. Que gostariam de alguma forma incentivar um golpe de Estado; que queria que ele assinasse o decreto; que acreditavam que quando o Presidente desse a ordem, ele teria apoio do povo e dos CACs”, diz. (Folhapress)