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Delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid divide o governo Lula

Mesmo com a produção frenética, a Câmara teve o menor número de sessões deliberativas em plenário desde 2006. (Foto: EBC)

Os vazamentos do inquérito comandado por Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF) têm provocado situações distintas no governo Lula.

Enquanto a ala mais ideológica comemora e utiliza os fatos para desgastar Jair Bolsonaro e a oposição, a ala institucional, que tenta tirar da lama a imagem das instituições militares pena sem ter muito o que fazer.

O ministro da Defesa, José Múcio, pediu, há meses, acesso ao conteúdo das investigações para seguir adiante com a punição de militares que se envolveram na aventura golpista do bolsonarismo. Até hoje aguarda um sinal do STF ou da Polícia Federal.

“Os comandantes das Forças, que seguem pacificando o clima na caserna e afastando a política dos quarteis, convivem com o retorno da polarização toda vez que algo vaza. Seria mais fácil abrir os fatos e deixar as instituições atuarem”, diz uma fonte da Defesa.

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O ex-ajudante de ordens Mauro Cid afirmou, em delação premiada que fechou com a Polícia Federal (PF), que o ex-presidente Jair Bolsonaro se reuniu com a cúpula das Forças Armadas para discutir a possibilidade de uma intervenção militar para anular o resultado da eleição de 2022 que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência.

Bolsonaro, no entanto, viu esvaziar sua pretensão de permanecer no Palácio do Planalto pela via do golpe ao ouvir de um militar de alta patente: “Tudo bem, mas você também vai sair.”

A advertência, em tom ríspido, foi dada pelo oficial de alto escalão durante reunião com o então presidente e o tenente-coronel Mauro Cid, realizada depois da eleição de Lula, mas antes da posse do petista.

O recado foi claro: se golpe houvesse seria para impedir a posse de Lula, mas ele próprio, Bolsonaro, acabaria alijado da Presidência. O País passaria por um novo processo eleitoral.

Bolsonaro ouviu a repreensão, que o abateu e fez desistir da estratégia radical de tentar impedir a chegada de Lula ao Planalto.

Nessa quinta-feira (21), o repórter Aguirre Talento, do portal UOL, e a repórter Bella Megale, de O Globo, publicaram detalhes da colaboração do ex-faz-tudo de Bolsonaro.

A munição para convencer a alta cúpula das Forças Armadas foi uma versão da “minuta do golpe’, que daria suporte jurídico à trama. Após exibir o documento, Bolsonaro ouviu de um dos interlocutores: “Mas você também terá de sair (do governo). Não vai poder ficar.” Na prática, o então presidente foi admoestado de que não ficaria ‘ileso’ da aventura.

Mauro Cid relatou à PF que apenas o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, aderiu à proposta. Do grupo, Ganier era o mais alinhado a Bolsonaro.

Os chefes das outras Forças não se empolgaram. O general Marco Antônio Freire Gomes, comandante do Exército, repudiou com veemência o movimento. O então comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, também não acolheu a ideia.

Dissuadido, sem apoio, Bolsonaro silenciou.

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