O doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa confirmaram nesta segunda-feira (22), em acareação na superintendência da PF (Polícia Federal) em Curitiba (PR), que a Braskem, braço petroquímico da Odebrecht, pagou de 1% a 3% em propina para a compra de nafta, tanto para Costa quanto para políticos filiados ao PP entre 2006 e 2012. Segundo Youssef, o pagamento era, em média, de 5 milhões de reais, em dinheiro vivo.
De acordo com ambas as defesas, esse foi o único ponto de convergência entre os dois delatores, que participaram de uma acareação que começou ainda pela manhã e teve oito horas de duração. O objetivo era esclarecer pontos “conflitantes” das delações premiadas de ambos, presos pela PF na Operação Lava-Jato, que investiga um esquema de desvios e pagamento de propina na Petrobras. Ambos já foram condenados em ações que tramitam na Justiça Federal e beneficiados nas penas pelos acordos de colaboração que firmaram com o MPF (Ministério Público Federal).
“O motivo pelo qual existia a divergência era por qual motivo que existia esse pagamento. Esse ponto foi esclarecido, chegando ambos à mesma versão. O pagamento existia para acelerar o procedimento de compra de nafta, e também em relação ao preço do nafta. Como o nafta no Brasil acabava sendo mais barato do que a cotação internacional, existiu pagamento e comissionamento por parte da empresa”, disse o advogado Tracy Reinaldet, que representa Youssef.
O defensor de Costa, João Mestieri, também confirmou a convergência. “No primeiro momento, o Paulo Roberto Costa disse que não participou disso, porque não se dava com o diretor-presidente [da Braskem]. Aí começaram a rememorar uma série de questões para então chegar à admissão de que isso ocorreu”, afirmou.
Entre os parlamentares citados estão os deputados e ex-deputados Pedro Henry (MT) e Pedro Corrêa (PE), ambos já condenados no julgamento do mensalão, Nelson Meurer (PR), João Pizzolati (SC), Mario Negromonte (BA), Luiz Fernando (MG), José Otávio Germano (RS), Arthur de Lira (AL), Dudu da Fonte (PE) e Aguinaldo Ribeiro (PB), além dos senadores Ciro Nogueira (PI) e Benedito de Lira (AL).
Os acordos para acertar o valor das vantagens indevidas, também segundo os delatores, eram feitos entre o ex-deputado federal José Janene, morto em 2010, e Alexandrino de Alencar, executivo que era da Braskem e que hoje está no grupo Odebrecht. Alexandrino foi preso na 14ª fase da Lava-Jato. Ele é citado por delatores como operador de propina na empreiteira e como companhia frequente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em viagens para lobby internacional.
Para complicar ainda mais, entre 2008 e 2012, Alencar encontrou-se diversas vezes com Rafael Angulo Lopez, auxiliar de Youssef que, além de distribuir a propina do petrolão para políticos, também fazia depósitos em contas no exterior para beneficiários do esquema.
Resposta da Braskem
A Braskem emitiu uma nota a respeito do assunto. Leia o comunicado na íntegra:
“A Braskem reafirma que todos os contratos com a Petrobras seguiram os preceitos legais e foram aprovados de forma transparente de acordo com as regras de governança da companhia. É importante lembrar que os preços praticados pela Petrobras na venda de nafta sempre estiveram atrelados às mais altas referências internacionais de todo o setor, prejudicando a competitividade da indústria petroquímica brasileira.”
Divergências
Nos demais pontos tratados pelas defesas, PF e MPF, não houve mudanças de versões. Dentre os casos em que ambos mantiveram os posicionamentos está um suposto pagamento de propina para a campanha de Roseana Sarney (PMDB) ao governo do Maranhão.
Na delação, Costa disse que mandou entregar 2 milhões de reais em propina para a campanha da peemedebista. Segundo o ex-diretor, a operacionalização do pagamento foi feita por Youssef. O doleiro nega. “Efetivamente, o que o Alberto contesta não é existência da operação, foi quem realizou a operação em si, quem foi que realizou a entrega do dinheiro”, explicou Reinaldet.
Para o advogado de Youssef, a falta de acordo não deve implicar na desqualificação das delações. “A divergência mostra que não houve combinação de versões, então dá mais valor para a colaboração de cada um deles. É natural que existam pontos divergentes, isso não retira a credibilidade das imputações que foram feitas.”