Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 20 de outubro de 2018
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
“Coisa de demagogo”, desdenha Jair Bolsonaro ao ouvir a promessa de volta do país feliz alardeada pelo adversário. “Só demagogia”, afirma Fernando Haddad depois da jura do capitão: “No meu governo, pátria, família e religião falarão alto”. Quem está certo? No fundo, como diz o outro, ambos têm razão. Fica a deixa: a história da palavra que nasceu do bem e, com o tempo, mudou de time.
Demagogo vem do grego. É composto de duas palavras. Uma: demos. Quer dizer povo. A outra: agogôs. Significa conduzir. Na Grécia antiga, demagogo era o chefe de facções populares, ou seja, o líder político. Quando nasceu, o vocábulo tinha boa reputação. Não ofendia ninguém. Dizia-se demagogo como hoje se diz prefeito, governador ou presidente. O termo não tinha conotação depreciativa.
Com o tempo, a novela mudou de enredo. Demagogo virou palavrão. É o político longo nas promessas e curto no cumprimento. Inescrupuloso, engana no atacado. Aproveita as aspirações populares para o próprio bem. Aristóteles o denominava adulador do povo.
Nós lhe damos alguns apelidos. Busca-pé é um. Candidato relâmpago, outro. Explica-se. Ele aparece, brilha, faz barulho e some. Vale também copa do mundo. Ou bom filho. O homem volta às bases regularmente. De quatro em quatro anos, bate à porta dos eleitores. Aperta mãos, dá abraços, pega crianças no colo, come sanduíche de mortadela, toma cafezinhos. Depois, bate asas.
O estilo varia aqui e ali. Mas, na essência, não muda. O louquinho pelo poder faz e acontece. Tudo é fácil. Desemprego? Violência? Drogas? Dinheiro curto? As soluções vêm como toque de mágica. Cadê os meios? O gato comeu. Nesta eleição, o bichano encheu o papo. E nós? Depois de 28 de outubro, vamos pagar a conta. Prepare o bolso. E o coração.
Dúvida marqueteira
A dúvida assaltou a equipe de marqueteiros. Eles precisavam escrever uma frase que apareceria na telinha. Por isso, impunha-se todo o cuidado. Qualquer erro seria explorado pela oposição. Valha-nos, Senhor!
Eis as duas versões para o texto:
1. Faça o trabalho bem feito.
2. Faça o trabalho bem-feito.
E daí? As duas formas existem. Mas dão recados diferentes:
Bem feito = interjeição de aplauso usada ironicamente: Caiu? Bem feito! Foi reprovado. Bem feito.
Bem-feito = contrário de malfeito: costura bem-feita, roteiros bem-feitos, pedido bem-feito.
Resumo da opereta: A dúvida dos marqueteiros bateu asas e voou. “Faça o trabalho bem-feito”, escreveram eles. Nota 10. Eles fizeram a pesquisa bem-feita.
Mais uma
A duplinha tal qual deu outro nó na cabeça da equipe do candidato. Tratava-se da concordância. Como acertar sempre? Há duas respostas.
1. Os ortodoxos dão esta orientação — cada par concorda com o termo a que se refere. Veja exemplos: Queria que o filho fosse tal quais os tios. As meninas querem ser tais qual a amiga. amigas. Ele é tal qual o filho. Os cães, tais quais os donos, podem participar de várias atividades.
2. Os liberais mantêm a duplinha invariável porque entendem que ela equivale a como: Queria que o filho fosse tal qual os tios. As meninas querem ser tal qual as amigas. Ele é tal qual o filho. Os cães, tal qual os donos, podem participar de várias atividades.
Moral da história: É acertar ou acertar.
Leitor pergunta
Qual a diferença de tampouco e tão pouco? Sempre que vou escrever, bate a dúvida. Pode dar uma ajudinha? (Luiz Penteado, Santo André)
A diferença, Luiz, é fácil como tirar chupeta de bebê. Veja:
Tampouco = também não, muito menos: Maria não fez a prova e tampouco deu explicações.
Tão pouco = muito pouco: O candidato falou tão pouco que surpreendeu. Peço tão pouco!
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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