Quinta-feira, 21 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 8 de junho de 2024
Apenas seis minutos dentro de uma máquina de ressonância magnética cerebral podem ser suficientes para prever um diagnóstico de demência até 9 anos antes de os sintomas surgirem. É o que mostra um novo estudo, publicado na revista científica Nature Mental Health por pesquisadores do Centro de Neurologia Preventiva da Universidade de Queen Mary e da Universidade de Londres, ambas no Reino Unido.
A demência é uma síndrome que engloba diversos quadros marcados pela perda cognitiva e de memória. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a maioria, de 60% a 70% dos casos, sejam causados pela doença de Alzheimer. Ao todo, a organização destaca que há cerca de 55 milhões de pacientes com demência hoje no planeta, número que deve saltar mais de 150% até 2050 e chegar a 139 milhões.
Um dos problemas, porém, é que os tratamentos ainda são limitados – não conseguem interromper a neurodegeneração e retardam pouco o declínio das atividades cerebrais. Nesse sentido, cientistas têm buscado novas terapias para impedir a evolução da demência. Mas, para isso, é preciso de técnicas que consigam identificar os pacientes que estão nesse estágio muito inicial, e que poderiam participar dos testes de novas drogas.
Agora, os pesquisadores britânicos criaram um teste preditivo que consegue fazer isso por meio da análise de um simples exame de imagem de ressonância magnética cerebral, que dura em média seis minutos. O método desenvolvido por eles conseguiu prever com mais de 80% de precisão, e até quase uma década antes, os diagnósticos.
Para isso, a equipe analisou exames de mais de 1,1 mil britânicos disponíveis no UK Biobank, um banco de dados de saúde do Reino Unido. 103 eram de pacientes que já tinham demência ou que não tinham um diagnóstico no momento do exame, mas desenvolveram nos anos subsequentes. Outros 1.030 foram indivíduos saudáveis utilizados como grupo controle, para comparação.
Os cientistas analisaram alterações na rede de modo padrão do cérebro (DMN), uma área que conecta regiões do órgão para realizar funções cognitivas específicas, em todos os exames. Segundo os especialistas, essa é a primeira rede neural a ser afetada pela doença de Alzheimer.
Com isso, atribuíram a probabilidade de cada paciente desenvolver, ou já ter, demência. Em seguida, relacionaram essa previsão com os dados médicos para ver se a estimativa feita com base nos exames correspondia aos voluntários que receberam um diagnóstico.
Os resultados mostraram que o acerto foi de mais de 80%. Além disso, alguns exames indicaram a probabilidade de demência até nove anos de aquele paciente de fato desenvolver a doença. Também foi constatado que o modelo podia prever, dentro de uma margem de erro de dois anos, exatamente quanto tempo levaria para o diagnóstico ser feito.
“Prever quem vai ter demência no futuro será vital para o desenvolvimento de tratamentos que possam evitar a perda irreversível de células cerebrais que causa os sintomas da demência. Embora estejamos melhorando a detecção das proteínas no cérebro que podem causar a doença de Alzheimer, muitas pessoas vivem por décadas com essas proteínas no cérebro sem desenvolver sintomas de demência”, diz o neurologista Charles Marshall, professor da Universidade Queen Mary que liderou a equipe de pesquisa, em comunicado.
“Esperamos que a medida da função cerebral que desenvolvemos nos permita ser muito mais precisos sobre se uma pessoa realmente desenvolverá demência e em quanto tempo, para que possamos identificar se ela pode se beneficiar de tratamentos futuros”, continua.
Samuel Ereira, também autor do trabalho e pesquisador da universidade britânica, destaca a facilidade de se realizar exames do tipo: “a ressonância é uma ferramenta de imagem médica não invasiva e leva cerca de seis minutos para coletar os dados necessários em um scanner de ressonância magnética, portanto, pode ser integrada aos caminhos de diagnóstico existentes, especialmente onde a ressonância magnética já é usada”.