Quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de julho de 2020
A demora na criação do Aliança Pelo Brasil, partido que Jair Bolsonaro pretende fundar, já traz consequências práticas para a futura legenda do presidente. Com a previsão de a sigla sair do papel apenas no final do ano que vem, quase dois anos após o planejamento inicial, deputados bolsonaristas que embarcariam no partido já desistiram do projeto.
No fim de semana, Bolsonaro afirmou que o partido sairá do papel a tempo da eleição de 2022, mas que “tem uma alternativa caso dê errado”.
Os deputados Luiz Lima (RJ) e Coronel Chrisóstomo (RO) decidiram permanecer no PSL, enquanto Otoni de Paula, festejado pela militância bolsonarista no evento de lançamento do Aliança, em novembro passado, acertou a ida para o PTB, de Roberto Jefferson. A debandada pode ser ainda maior: o PSL planeja uma reunião com todos os deputados e, diante da reaproximação com o Palácio do Planalto, tentará convencer mais bolsonaristas a não se desfiliarem. No grupo de WhatsApp do Aliança, 90% dos políticos que atuam para fundar a legenda estão, hoje, no PSL.
A demora para a criação da legenda, mesmo com o apoio significativo que Bolsonaro tem de boa parcela do eleitorado, é vista no meio político como um “fracasso” do presidente como articulador político. Ao deixar o grupo do Aliança no WhatsApp, Luiz Lima afirmou que permanece aliado do presidente, mas que sua decisão acontece porque a criação está “muito longe de ser resolvida”.
Para os políticos, o fato de a legenda não ter sido criada a tempo de disputar as eleições de 2020 e o horizonte agora ficar para o final de 2021, como admitem organizadores do projeto, dificulta um embarque, especialmente porque deputados geralmente usam as eleições municipais para formar uma base de prefeitos e vereadores.
“Nós precisamos resolver as nossas vidas. Eu tenho atuação local, na rua, nos pequenos municípios. A eleição municipal chegou, preciso botar nossos candidatos nas ruas, com estrutura, com apoio. Tenho muita gente boa, gente séria, que precisa de mim”, escreveu Luiz Lima.
“Flávio e Carlos Bolsonaro já se filiaram ao Republicanos. Todos os dias leio notícias do presidente conversando com outros partidos. Eu preciso cuidar de mim e das pessoas que estão dependendo da minha decisão”, concluiu Lima, ao deixar o grupo de WhatsApp do Aliança.
Já Otoni de Paula, rompido com o PSC por conta das críticas ao governador Wilson Witzel, levou em consideração a promessa feita por Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, de ter o apoio da legenda para disputar o governo do Rio ou o Senado em 2022. Jefferson tem feito o mesmo aceno a outros bolsonaristas.
No Twitter, Otoni reclamou recentemente da postura moderada de Bolsonaro, que reatou pontes com Judiciário e Legislativo: “Estou tendo a sensação de que combinaram algo e não me avisaram. Fui chamado para uma guerra pela minha pátria, mas tô tendo a sensação de que há um acordo de paz com o inimigo, que eu não participei e não participaria”.
Coronel Chrisóstomo, por sua vez, ressaltou a boa relação que tem com políticos do PSL para desembarcar do Aliança.
“Sempre busquei a conciliação. Nunca fui contra o PSL ou desrespeitei a legenda. O partido tem buscado essa possibilidade de um maior consenso, para dar tranquilidade aos parlamentares. Ficar no PSL não significa ser contra o governo Bolsonaro, muito pelo contrário”, afirma.
Políticos que embarcaram no projeto do Aliança reclamaram que, quando a iniciativa foi lançada, em novembro, a oficialização do partido foi prometida pelos advogados da legenda para um prazo de três meses.
Para a criação do Aliança é necessário apresentar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) 492 mil assinaturas certificadas por cartórios eleitorais. Até o momento, o sistema do TSE aponta apenas 15.828. Os organizadores dizem ter chegado a 140 mil assinaturas, mas relatam ter dificuldade em fazer a certificação porque os cartórios estão fechados devido à pandemia de coronavírus.