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Por Redação O Sul | 3 de fevereiro de 2019
“O que a Vale nos deu, tomou em dobro. Você não vê uma casa que não tenha gente chorando”, diz Solange Leni, 42 anos, moradora de Brumadinho (MG). Ao pensar no futuro, brumadinhenses tentam contrabalancear a preponderância da Vale para os empregos da região e a responsabilidade de uma empresa que colocou funcionários e moradores em risco.
O plano de emergência da mineradora já previa que um rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, como ocorreu no dia 25 de janeiro, destruiria áreas como o refeitório e a administração. Entre os moradores, há quem diga que a cidade acabou. Outros tentam dissociá-la do rompimento.
“O correto é falar tragédia da Vale, não tragédia de Brumadinho, para não ficar o estigma. Foi um crime”, diz Mário Brito, primo da secretária municipal e professora de direito Sirlei de Brito Ribeiro, que era crítica à mineração e morreu soterrada.
Para Brito, a mineração na cidade deveria incorporar novas técnicas, livres de perigo e de danos ao meio ambiente. A Vale já anunciou que descaracterizará todas as suas barragens construídas pelo método de alteamento a montante.
Outra solução seria apostar mais no turismo do que na mineração, mas, segundo o prefeito Avimar de Melo Barcelos (PV), a atividade não é significativa para a economia do município, mesmo com o Instituto Inhotim, que não foi atingido, mas está fechado por tempo indeterminado.
A tragédia também traz reflexos para as pousadas. Na Estrada Real, por exemplo, reservas do fim de semana foram canceladas. A gerente do local perdeu a sua casa, enquanto os proprietários se ocupam em enterrar conhecidos.
Moradores estão descrentes em relação ao turismo. Dizem que o Inhotim emprega muitas pessoas de fora da cidade e tem salários piores do que os da Vale. Também temem que, por medo, turistas não queiram visitar Brumadinho.
Brito faz a avaliação inversa. “O turismo deve aumentar por conta dos curiosos. A pessoa aproveita que já vai até o Inhotim, que é referência mundial”, diz.
Hoje, a Vale responde por 35% da arrecadação de Brumadinho. “Somos uma cidade mineradora. Sem isso, não mantemos serviços essenciais, saúde, educação. Vai falir a cidade, o comércio, não sabemos como andar daqui para frente”, diz o prefeito.
A Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais, taxa que as mineradoras devem pagar aos municípios, representa 60% da verba da cidade. A Vale se comprometeu a continuar fazendo o repasse, mesmo com as atividades interrompidas.
No total, a empresa pagará R$ 80 milhões em dois anos a Brumadinho – medida que não foi tomada em Mariana (MG), onde o rompimento da barragem de Fundão, em 2015, matou 19 pessoas e espalhou rejeitos de mineração por 650 quilômetros do rio Doce. Lá, a paralisação da Samarco já dura mais de três anos, impondo crise e desemprego ao município. Justamente pela experiência de Mariana, há o medo de que a ajuda fique só na promessa.